O melhor filme de ação de 2024, até agora Divulgação / Warner Bros.

O melhor filme de ação de 2024, até agora

O colapso da rede elétrica já não é o único problema: o dinheiro perde valor rapidamente, as cidades são consumidas por incêndios incessantes, doenças assolam a população, o calor se intensifica, a água escasseia e gangues violentas tomam conta das ruas, como pragas vorazes. A terra, antes fértil, agora se torna infértil, e os habitantes, envenenados por sua própria ganância, veem a morte em cada esquina. A civilização está à beira de um colapso total, sem qualquer controle, ansiando por uma figura que traga força e renovação. Nesse cenário desolador, surge uma garota determinada, dotada de coragem e fúria para enfrentar as atrocidades do mundo, respondendo ao chamado desesperado da humanidade por uma salvação.

“Furiosa: Uma Saga Mad Max”, reconhecida como uma das prequelas mais sofisticadas do cinema contemporâneo, equilibra o entretenimento frenético com uma profundidade filosófica surpreendente. Ao longo de 148 minutos, George Miller conduz o espectador por um emaranhado de capítulos intensos e provocativos, cada um deles ampliando o retrato de um mundo caótico, seco e brutal, que remete diretamente à distopia anárquica apresentada em 1979. O diretor, como um orquestrador habilidoso, lembra ao público que os vaticínios sombrios daquela época ainda permanecem ignorados.

A trama se desenrola em meio a um vasto deserto, onde a jovem Furiosa, em uma cena de aparente tranquilidade, colhe pêssegos em um oásis isolado. Esse momento de calma é abruptamente interrompido quando um grupo de delinquentes, montados em motocicletas com mecânicas expostas, invade o local, cruelmente estripando um cavalo. Furiosa é capturada e levada por eles, dando início a uma jornada brutal de sobrevivência. Sua mãe, Mary Jabassa, em um ato desesperado, parte em seu resgate, e a ação se desenrola por vastas paisagens áridas, onde dunas infinitas e tempestades de areia se tornam palco de uma batalha entre a vida e a morte.

Miller e seu corroteirista, Nick Lathouris, aproveitam cada elemento desse cenário desolador para construir um mundo em que os personagens, como peças de um quebra-cabeça vivo, completam um intrincado jogo de poder e resistência. Embora Charlee Fraser tenha uma presença mais discreta, seu papel é fundamental para a compreensão da relação entre Furiosa e o antagonista Dementus, um tirano com pretensões proféticas. A narrativa conecta o passado de Furiosa, interpretada na juventude por Alyla Browne, ao seu futuro incerto, um destino tão instável quanto o do mundo ao seu redor.

Quando a versão adulta de Furiosa finalmente surge, interpretada com intensidade por Anya Taylor-Joy, ela toma as rédeas da história, conduzindo o filme para um novo patamar. Taylor-Joy, que vem aprimorando seu desempenho em cada projeto, oferece uma interpretação de Furiosa que é ao mesmo tempo minimalista e visceral, dando à personagem uma complexidade emocional que move o enredo em direção ao confronto final. É aqui que os vilões assumem o controle da narrativa, com Chris Hemsworth dominando a cena no papel de Dementus. O personagem, com sua peruca desgrenhada e prótese nasal que lhe confere um aspecto grotesco, representa a loucura de um líder obcecado por um paraíso inexistente.

A obsessão de Dementus é personificada em uma tatuagem enigmática de um mapa de estrelas, gravada no antebraço de Furiosa, que sugere a localização desse lugar mítico. No entanto, esse destino parece tão distante quanto incerto, deixando o público em suspense. “Furiosa: Uma Saga Mad Max” é, além de uma eletrizante prequela, uma reflexão profunda sobre a fragilidade humana e o comportamento autodestrutivo que ameaça nossa própria existência. Sem abandonar o tom de diversão, o filme lança mais um grito de alerta sobre os caminhos perigosos que seguimos, ao mesmo tempo que entretém com ação frenética e uma trama repleta de nuances.


Filme: Furiosa: Uma Saga Mad Max
Direção: George Miller 
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Aventura/Fantasia 
Nota: 9/10