Visto por 11 milhões de espectadores, romance recém-chegado à Netflix ficou no Top 10 de 90 países Hilary Bronwyn Gayle / Netflix

Visto por 11 milhões de espectadores, romance recém-chegado à Netflix ficou no Top 10 de 90 países

As relações amorosas são imprevisíveis. O desenrolar de um relacionamento está sujeito a mudanças inevitáveis, sejam elas pessoais, circunstanciais ou emocionais. Com o passar do tempo, alguém que antes parecia familiar pode tornar-se irreconhecível, assumindo comportamentos que nunca foram imaginados. Isso pode causar um impacto profundo, pois o que outrora parecia certo, passa a ser confuso e distante.

Tom Jobim uma vez observou que o amor, ao terminar, é uma das experiências mais tristes que existem, e sua declaração não poderia ser mais precisa. O amor vai muito além de sentimentos momentâneos; ele está entrelaçado com sonhos compartilhados, planos futuros, amizades comuns, intimidades construídas ao longo do tempo. Dentro dessas memórias, há momentos de felicidade e também de dor. Porém, o mais desafiador é aceitar que alguém que esteve tão próximo possa se transformar em um completo estranho.

Em “Amores Solitários”, a roteirista Susannah Grant, indicada ao Oscar por seu trabalho em “Erin Brockovich”, explora as complexidades do amor e suas incertezas. O protagonista Owen, vivido por Liam Hemsworth, é um executivo cuja vida é dominada pelo trabalho. Entre e-mails, ligações e compromissos profissionais, ele se vê frequentemente distante de sua namorada, Lily, interpretada por Diana Silvers. Lily, uma jovem escritora em ascensão, tem como inspiração Katherine Lowe, uma renomada autora veterana, papel de Laura Dern.

O trio acaba se reunindo em um retiro de escritores no exótico cenário de Marraquexe, no Marrocos. Desde o início da viagem, fica evidente que a relação de Owen e Lily está desgastada. A desconexão emocional entre eles revela uma crise que já vinha se arrastando, mas que se torna inegável durante essa estadia. No meio dessa ruptura, Owen se aproxima de Katherine, percebendo nela qualidades e afinidades que já não encontra mais em sua relação com Lily.

O comportamento de Lily, agora frio e desdenhoso, faz com que Owen se sinta cada vez mais fora de lugar. Ela o trata como se ele fosse incapaz de acompanhar seu universo intelectual, deixando claro o abismo que se formou entre eles. Owen, que fez o esforço de acompanhá-la nessa viagem, sente o peso de sua insuficiência e a perda das conexões que um dia os uniram. Katherine, com sua experiência e calma, oferece a Owen uma sensação de tranquilidade e apreço, algo que ele há muito não vivenciava.

A aproximação entre Owen e Katherine rapidamente evolui de uma amizade para um romance. Owen decide então colocar um ponto final em seu relacionamento com Lily, dando início a uma nova fase ao lado de Katherine. Contudo, mesmo que essa nova relação traga uma sensação renovada de segurança e conforto, o início de qualquer novo romance carrega desafios próprios, especialmente quando comparado a relações que já passaram por ciclos de amadurecimento. Manter a chama desse novo amor requer mais do que sintonia momentânea — é preciso força e vontade para superar as adversidades que inevitavelmente surgirão.

“Amores Solitários” promete explorar essas nuances, mas acaba não mergulhando tão profundamente quanto o espectador espera. As histórias pessoais dos personagens, que poderiam ser ricas e envolventes, permanecem superficiais, o que gera uma certa frustração em quem busca entender mais a fundo suas motivações e emoções. Essa falta de aprofundamento acaba criando uma distância, impedindo que o público se conecte plenamente com os dilemas e desafios dos protagonistas.

Ainda assim, o filme entrega boas atuações e proporciona uma experiência agradável para os amantes de histórias de amor. Embora não vá além do esperado no quesito desenvolvimento de personagens, “Amores Solitários” cumpre seu papel de entreter, mesmo que deixe o público querendo mais.


Filme: Amores Solitários 
Direção: Susannah Grant
Ano: 2024
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.