Da franquia de ação mais bem-sucedida da Netflix, filme foi visto por mais de 130 milhões de espectadores Divulgação / Netflix

Da franquia de ação mais bem-sucedida da Netflix, filme foi visto por mais de 130 milhões de espectadores

“Resgate 2” apresenta uma narrativa intensa, que ecoa os melhores elementos dos filmes de super-heróis, mas com um toque mais realista e sombrio. Os personagens, dirigidos por Sam Hargrave, assumem papéis precisos dentro do enredo, servindo como engrenagens que impulsionam o espectador para o centro do conflito, um embate aparentemente intransponível. Nesse cenário, surge o protagonista, dotado de habilidades e uma presença que, apesar de previsível, é indispensável para o desenlace da trama. O roteiro de Joe Russo, conhecido por seu trabalho em “Vingadores: Ultimato” (2019), sugere uma reflexão sobre o arquétipo do herói, questionando o papel desses personagens que tradicionalmente ocupam o posto de salvadores nas histórias contadas pelo cinema.

Tyler Rake, interpretado por Chris Hemsworth, aparece solitário e desiludido, um homem à beira do colapso físico e emocional, lutando para manter-se em movimento, mesmo sem glória. As breves pausas em sua trajetória revelam uma figura que, por necessidade, abdica de pequenas vaidades para garantir sua sobrevivência. Esse segundo filme da franquia permite que Rake se redescubra, assumindo uma missão que testa seus limites como nunca antes. Embora o público saiba que ele provavelmente vencerá seus desafios, a dúvida persiste: será que sua percepção de si mesmo é exagerada? Ou ele realmente tem o que é necessário para superar essa prova?

A personagem de Nik Khan, vivida por Golshifteh Farahani, ganha destaque logo nos primeiros minutos, sua expressão preocupada iluminada pela fotografia quente de Greg Baldi. O roteiro, intercalado com flashbacks, explora a moralidade incerta de Rake, sugerindo que confiar nele pode ser uma aposta arriscada. Esse mistério em torno de seu caráter adiciona uma camada de profundidade ao filme, afastando-o do clichê dos heróis invencíveis e previsíveis. Rake se destaca justamente por ser falho, o que o torna mais próximo dos antagonistas brutais e seguros de si que habitam histórias semelhantes.

No entanto, é o próprio Rake que precisa ser salvo, uma inversão interessante dentro do gênero. Sob os cuidados de médicos supervisionados por Nik, ele passa boa parte do filme entre a vida e a morte, mergulhado em um coma aparentemente interminável. Mas, como esperado, seu retorno é iminente. A narrativa ganha um tom de epopeia à medida que a trama se expande para diversas locações internacionais, começando por Dubai. Essa viagem pelo mundo reforça a imagem de Rake como uma figura incansável, um homem em constante busca de superar suas limitações e de alcançar um objetivo que parece sempre além do horizonte.

O ritmo do filme é acelerado, especialmente na sequência culminante, que envolve um trem desgovernado, onde Rake e Nik enfrentam os capangas de Ovi Mahajan, um poderoso criminoso interpretado por Pankaj Tripathi. O diretor aproveita essa cena para relembrar os eventos do primeiro filme, quando Rake e Nik fracassaram ao tentar resgatar o filho de Mahajan, Ovi Jr. Agora, os dois se veem novamente em rota de colisão com a fraternidade da máfia indiana, desta vez não em busca de lucro, mas simplesmente pela sobrevivência.

Hargrave constrói o enredo a partir de convenções estabelecidas no primeiro filme, mas as eleva ao situar seus personagens principais em prisões austeras, como as de Schwarzau e Graz-Karlau, na Áustria. A promessa de redenção, como insinuado pelo personagem de Idris Elba no final, ainda paira sobre Rake e Nik, mas sua concretização depende de um desfecho que só será revelado na terceira parte desta saga brutal e envolvente.


Filme: Resgate 2
Direção: Sam Hargrave
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10