Imperdível na Netflix: Denzel Washington em um suspense policial épico, um dos filmes mais tensos da história do cinema Divulgação / Columbia Pictures

Imperdível na Netflix: Denzel Washington em um suspense policial épico, um dos filmes mais tensos da história do cinema

A humanidade, em sua busca incessante por redenção, enfrenta o dilema de sempre necessitar de um salvador. As fraquezas do ser humano exigem constantes lutas internas, sendo que, em várias ocasiões, o simples ato de estender uma palavra de encorajamento ou um gesto de empatia pode parecer uma tarefa monumental. Tais gestos exigem uma disposição emocional que raramente vem sem um custo. Nessas interações, percebemos como nossas vidas são cercadas de complexidades que nos obrigam a explorar os recantos mais sombrios de nossa alma. Só quando atravessamos esses momentos é que ganhamos uma compreensão mais profunda de nós mesmos e dos papéis que desempenhamos tanto em nossa história quanto na daqueles que nos rodeiam. Essa jornada não é simples, apesar de assim parecer, e só ao final dela é que podemos medir o impacto real que causamos no mundo ao nosso redor.

Desde cedo aprendemos que o mal raramente se revela da forma que esperamos. Ele se manifesta de maneiras muitas vezes contraditórias e até atraentes, exigindo uma sensibilidade que poucos têm. O instinto de sobrevivência que surge diante do perigo é um guia inato, cuja origem não sabemos ao certo, mas que nos auxilia em momentos cruciais. “O Colecionador de Ossos” (1999) é um exemplo de narrativa que desafia expectativas, oferecendo uma abordagem intrigante e inesperada. Phillip Noyce constrói uma trama rica em subtextos, onde duas vidas, marcadas por experiências traumáticas, se entrelaçam na tentativa de solucionar um mistério envolvente e sombrio. O diretor não se limita a contar uma história convencional; ele mergulha nos detalhes das jornadas pessoais dos protagonistas, transformando o suspense em uma reflexão sobre as escolhas e as circunstâncias que moldam suas existências.

O roteiro de Jeremy Iacone, embora simples em sua essência, brilha ao explorar a relação entre os protagonistas, nutrindo no público uma afinidade natural por eles. Washington e Jolie, dois dos atores mais carismáticos de Hollywood, trazem para a tela uma química inesperada, desafiando as expectativas que muitos poderiam ter devido às suas trajetórias distintas. Washington, já veterano, entrega uma interpretação segura, enquanto Jolie, que começava a ganhar notoriedade com papéis marcantes, como em “Gia — Fama e Destruição” (1998), revela sua versatilidade em “Garota, Interrompida” (1999). Juntos, eles criam uma dinâmica envolvente, mesmo que suas personalidades pareçam, à primeira vista, incompatíveis. Lincoln Rhyme, o personagem de Washington, é um renomado perito forense que, apesar de estar limitado a um único ambiente, domina a narrativa com sua presença. Já Jolie, interpretando a patrulheira Amelia Donaghy, entra em cena de forma gradual, sendo empurrada para fora de sua zona de conforto, o que gera um interessante contraste entre ambos. A tensão e a cumplicidade que surgem entre os dois revelam a profundidade dos personagens e dão ao filme uma camada adicional de complexidade.

Mais do que um simples thriller policial, “O Colecionador de Ossos” se destaca por sua capacidade de construir um romance implícito, nunca plenamente realizado. Noyce utiliza o olhar melancólico de Rhyme sobre sua própria existência para tecer uma trama que transcende o crime a ser desvendado. A cena final, durante a celebração natalina com Amelia, sugere que a jornada dos dois, apesar de não ter levado a um relacionamento tradicional, se transformou em uma amizade sólida e significativa. Com isso, a angústia que persegue Rhyme ao longo do filme parece finalmente encontrar seu desfecho, trazendo uma sensação de paz e fechamento.


Filme: O Colecionador de Ossos
Direção: Phillip Noyce
Ano: 1999
Gêneros: Thriller/Drama/Ação
Nota: 8/10