Filme com Charlize Theron e Chris Hemsworth, na Netflix, faturou 2,5 bilhões nas bilheterias e levou 55 milhões de pessoas aos cinemas Divulgação / Universal Pictures

Filme com Charlize Theron e Chris Hemsworth, na Netflix, faturou 2,5 bilhões nas bilheterias e levou 55 milhões de pessoas aos cinemas

Hollywood mantém viva sua tradição de transformar clássicos literários e culturais em narrativas que dialogam com diferentes gerações. Desde que Walt Disney lançou, em 1937, “Branca de Neve e os Sete Anões”, inspirado no conto dos irmãos Grimm, a princesa de pele alva e lábios vermelhos se tornou uma referência atemporal. A animação eternizou a história, conquistando não apenas o público infantil, mas também adultos que passaram a reconhecer suas camadas metafóricas ao longo da vida. Agora, com “Branca de Neve e o Caçador” (2012), dirigido por Rupert Sanders, a lenda ressurge em uma versão sombria e realista, reafirmando a relevância desse mito no imaginário contemporâneo. 

A adaptação de Sanders traz um tom mais dramático e visualmente grandioso. Utilizando efeitos especiais de ponta, o diretor se distancia da leveza do conto original para criar um universo onde o perigo e a ambiguidade moral estão sempre presentes. A protagonista, interpretada por Kristen Stewart, carrega uma atmosfera melancólica e introspectiva, ecoando os personagens dos folhetins de Alexandre Dumas, Pai. Embora a narrativa tenha claras referências medievais, a nova Branca de Neve é uma heroína contida, moldada por anos de encarceramento após o assassinato de seu pai. Sob o domínio da madrasta Ravenna, vivida por Charlize Theron, a jovem passa parte da vida aprisionada em uma masmorra, até encontrar uma oportunidade de escapar durante uma cena carregada de tensão, envolvendo o irmão da rainha, Finn (Sam Spruell). 

Charlize Theron entrega uma atuação magnética como Ravenna, cuja beleza e crueldade são elevadas pela computação gráfica liderada por Vince Abbott. Ainda que a personagem não alcance a profundidade esperada, seu carisma domina a tela, reforçando a natureza sedutora e sombria da vilã. Kristen Stewart, por sua vez, traz uma vulnerabilidade palpável à protagonista, embora seu desempenho por vezes esbarre na monotonia que marcou sua passagem por “Crepúsculo”. Mesmo assim, a química contida entre Branca de Neve e o caçador, interpretado por Chris Hemsworth, sustenta uma tensão sutil ao longo da trama, enquanto o príncipe William (Sam Claflin) acrescenta um leve toque de romance não resolvido, ampliando a complexidade emocional da narrativa. 

O enredo evita o convencionalismo ao priorizar a aventura em vez de um romance central, preservando a pureza da heroína e focando em sua jornada de sobrevivência. Sanders subverte expectativas sem perder a essência do mito, transformando a trama em uma saga épica. A perseguição pela Floresta Negra simboliza uma jornada tanto física quanto emocional, e o ritmo do filme reforça o tom de renovação que permeia a obra. A estética sombria e o uso cuidadoso dos efeitos especiais conferem ao filme uma aura diferente das adaptações mais tradicionais, oferecendo uma experiência visualmente rica e emocionalmente impactante. 

Mesmo cercado por rumores nos bastidores — como as especulações sobre o envolvimento entre Stewart e Sanders —, o filme se mantém fiel à proposta de revitalizar um conto conhecido, sem cair na repetição cansativa. O maior mérito de “Branca de Neve e o Caçador” é explorar novos caminhos narrativos sem romper totalmente com suas raízes. A produção se destaca como uma versão madura e robusta, mostrando que há sempre espaço para reviver e reinventar fábulas antigas. Cinderela e outras princesas que se cuidem: o universo dos contos de fada continua a surpreender, e há sempre uma nova perspectiva à espreita.


Filme: Branca de Neve e O Caçador
Direção: Rupert Sanders
Ano: 2012
Gêneros: Fantasia/Aventura/Coming-of-age
Nota: 8/10