Algumas obras fogem das classificações tradicionais, seja por escolhas únicas de seus diretores ou por uma falta de compreensão sobre o material original. O resultado, às vezes, é um amontoado confuso de elementos que pode tanto fascinar quanto causar repulsa. Em casos raros, por um feliz acaso, tais produções superam as expectativas iniciais. Se vivêssemos num mundo onde apenas o belo, o correto e o justo florescessem, ou pelo menos num espaço onde todos soubessem e cumprissem suas obrigações sem esperar nada dos outros, figuras como Gary Johnson não seriam tão corriqueiras.
O protagonista de “Assassino Por Acaso” é um matador de aluguel, algo que Hollywood há muito não produzia. Richard Linklater, conhecido por sua minúcia, transforma um professor de filosofia e psicologia em Nova Orleans em um colaborador insano da polícia, que realiza tarefas corriqueiras até se ver envolvido por eventos inusitados. Baseado levemente em fatos reais, o roteiro de Linklater, Skip Hollandsworth e Glen Powell é uma montanha-russa que oscila entre comédia e noir, enquanto flerta com o romance para manter a atenção. Powell interpreta Gary, um personagem perdido em sua própria existência, como uma versão sombria de Walter Mitty, e o filme se desenrola num caos controlado.
A narrativa mergulha no universo caótico de Gary através de uma aula filosófica sobre as urgências de aproveitar a vida. Em casa, ele cuida de seu gato até receber um telefonema que interrompe sua monotonia. Jasper, vivido por Austin Amelio, é afastado de suas atividades após agredir alguns jovens infratores, e Gary é chamado para substituí-lo. No segmento mais cômico, Powell improvisa sobre os métodos inusitados que seu personagem utiliza para desaparecer com corpos, envolvendo jacarés e granadas. A surpresa de seus colegas, Claudette e Phil, abre espaço para uma improvável promoção. Naturalmente, o caos não tarda a chegar.
Sob o nome de Ron, Gary aceita sua primeira missão real: eliminar um marido violento. No entanto, a tarefa toma um rumo inesperado quando ele sugere que a esposa use o dinheiro para recomeçar sua vida. Como ocorre em boas narrativas, Ron/Gary e Madison acabam envolvidos em um romance improvável. As cenas entre Powell e Adria Arjona, equilibradas com o caos, mostram mais sobre a complexidade interna do protagonista do que sobre o que de fato acontece. “Assassino Por Acaso” é uma obra que, com sua despretensão, explora o imprevisível e deveria servir de exemplo para novas produções do gênero.
Filme: Assassino Por Acaso
Direção: Richard Linklater
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Ação
Nota: 9/10
