Considerado o 2° melhor filme da história do cinema, épico vencedor de 3 Oscars está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Considerado o 2° melhor filme da história do cinema, épico vencedor de 3 Oscars está na Netflix

Lançado em 1972, “O Poderoso Chefão” continua a ser um dos maiores marcos do cinema. Com uma trajetória cercada de desafios e mitos, esse clássico de Francis Ford Coppola redefiniu o gênero mafioso, oferecendo uma visão única e profunda sobre poder, lealdade e a natureza humana. Coppola, que já era conhecido por seu espírito rebelde em relação aos grandes estúdios, fundou a American Zoetrope com George Lucas, em 1969, buscando maior liberdade criativa. Essa ousadia o levou a confrontos constantes, mas também permitiu que ele entregasse ao mundo uma obra que atravessa gerações.

A produção de “O Poderoso Chefão” foi uma verdadeira batalha. Contrariando as expectativas da Paramount, que ofereceu um orçamento limitado de seis milhões de dólares, o filme foi trazido à vida graças à persistência do produtor Albert S. Ruddy. Baseado no romance de Mario Puzo, que também co-escreveu o roteiro, o filme se destacou por sua complexa narrativa, tanto em termos estéticos quanto temáticos, revivendo um gênero que parecia esgotado no início dos anos 70.

A narrativa densa e intricada, com saltos temporais e camadas de profundidade, é um dos principais elementos que destacam o longa. A evolução de Michael Corleone (Al Pacino) é contada de forma cuidadosa e envolvente. De um jovem promissor e veterano de guerra, ele se transforma, quase que inevitavelmente, em um líder mafioso ao ver sua família sob ameaça. Quando Don Vito Corleone (Marlon Brando), seu pai, sofre um ataque brutal, Michael sente o peso da responsabilidade de preservar sua família e herança.

O enredo explora Michael como um líder que inicialmente reluta em assumir o papel, mas logo se entrega ao poder que esse posto oferece, sempre com o objetivo de proteger aqueles que ama. Ao seu redor, orbitam personagens igualmente fascinantes, cada um contribuindo com subtramas que enriquecem ainda mais o desenrolar da história. O diálogo, meticulosamente escrito, é uma das marcas registradas do filme, assim como as cenas que se tornaram ícones do cinema.

Neste primeiro capítulo da trilogia, pouco é revelado sobre o passado de Vito Corleone. A história de sua chegada à América e de sua ascensão no mundo do crime é desenvolvida posteriormente, mas já aqui há pistas de sua determinação implacável. Ao contrário do que esperava para Michael, Vito desejava que seu filho seguisse uma carreira limpa, longe dos negócios da máfia. Mas as circunstâncias forçam Michael a tomar um caminho sombrio, levando-o a uma transformação notável. O Michael que começa como um jovem inocente e cheio de esperanças se torna um homem frio, calculista, movido por um senso rígido de dever familiar e hierarquia.

Visualmente, “O Poderoso Chefão” é um triunfo. Filmado em 35mm, a textura granulada e as tonalidades terrosas, junto com a iluminação sutil, criam uma atmosfera única, sombria e carregada de simbolismos. A cinematografia de Gordon Willis explora magistralmente o jogo entre luz e sombra, refletindo os conflitos internos e externos dos personagens. Os ângulos escolhidos por Coppola são cirurgicamente precisos, reforçando o peso das cenas e das relações de poder.

Outro elemento crucial para o impacto emocional do filme é a trilha sonora, composta por Nino Rota. Sua música, ao mesmo tempo comovente e imponente, serve como uma extensão das emoções e tensões presentes na narrativa, sublinhando momentos chave com uma sensibilidade única. O reconhecimento desse trabalho veio na forma de 11 indicações ao Oscar, das quais o filme levou três: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator para Marlon Brando, em uma de suas performances mais memoráveis.

Com sua versão remasterizada em 4K disponível na Netflix, “O Poderoso Chefão” continua a ser uma experiência cinematográfica indispensável, um testemunho da genialidade de Coppola e da relevância atemporal de sua criação.


Filme: O Poderoso Chefão: A Morte de Michael Corleone
Direção: Francis Ford Coppola
Ano: 2020
Gêneros: Drama/Ação/Suspense
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.