Thriller brasileiro que estreou há apenas um dia no Prime Video e já está no Top 10 de mais de 20 países Divulgação / MGM

Thriller brasileiro que estreou há apenas um dia no Prime Video e já está no Top 10 de mais de 20 países

O longa brasileiro “Maníaco do Parque”, escrito por L.G. Bayão e dirigido por Mauricio Eça, estreou recentemente no Prime Video e já figura entre os mais assistidos em diversos países, incluindo o Brasil. O filme, que aborda um dos casos criminais mais aterrorizantes do fim dos anos 1990, mistura realidade e ficção ao retratar a busca pelo infame serial killer que aterrorizou São Paulo, levando a polícia e a imprensa ao limite.

O roteiro adota uma estrutura dual, explorando a história sob duas óticas distintas: a de Elena (Giovanna Grigio), uma jovem jornalista que inicia sua carreira cobrindo os crimes do assassino, e a de Francisco (Silvero Pereira), o próprio Maníaco do Parque. Enquanto Elena é uma personagem fictícia criada para dramatizar a história, Francisco é inspirado no verdadeiro criminoso que chocou o país com sua crueldade. A perspectiva de Elena serve como veículo para expor as falhas do sistema policial e o machismo enraizado nas redações de jornais, enquanto a narrativa de Francisco oferece uma visão sombria e perturbadora de seus atos.

Elena enfrenta preconceitos em seu ambiente de trabalho, sendo subestimada por sua juventude e por ser mulher. Em uma das cenas, o editor Vicente (Marco Pigossi) reage com indiferença a um caso de feminicídio, questionando friamente o que a vítima teria feito para provocar o marido a atropelá-la de forma intencional. Essa postura reflete o sexismo que permeia o meio jornalístico e a maneira como crimes contra mulheres são tratados e retratados com descaso. Determinada a provar sua competência, Elena  finge ser assistente do jornalista veterano Zico para obter informações exclusivas sobre os corpos encontrados no Parque do Estado. Ao conversar com o delegado Medeiros (Augusto Madeira), fica evidente a negligência da polícia em relação aos assassinatos: o próprio delegado admite que seis mulheres são mortas diariamente em São Paulo e que seria inviável realizar exames de DNA em todos os cadáveres, ilustrando o abandono que as vítimas femininas sofrem.

A primeira matéria de Elena sobre o caso torna-se um sucesso, mas Vicente distribui a responsabilidade pela cobertura do assassino entre todos os repórteres da redação, frustrando a jornalista, que desejava a exclusividade na pauta. A trama revela que Elena guarda questões mal resolvidas com a figura do pai, também jornalista, de quem ela nunca teve uma relação próxima. A busca pelo serial killer acaba se tornando uma forma de superar essa ausência e se provar superior ao pai. A obsessão de Elena é retratada de maneira simbólica quando ela ocupa, sem autorização, o apartamento vazio do pai, montando ali uma parede repleta de pistas e evidências sobre o criminoso, tudo enquanto lida com a desaprovação da irmã Martha (Mel Lisboa), que deseja vender o imóvel.

Paralelamente à busca incessante de Elena, o filme acompanha a rotina de Francisco, um motoboy que disfarçava suas intenções criminosas sob uma fachada inofensiva. Patinando pelo Parque Ibirapuera e convivendo com colegas de trabalho, Francisco seduzia suas vítimas com a falsa promessa de trabalhos fotográficos. Fingindo ser um fotógrafo profissional, ele abordava mulheres na rua com a justificativa de que a modelo de uma campanha publicitária havia faltado, oferecendo uma oportunidade de última hora com uma remuneração atraente. O plano, cuidadosamente elaborado, resultou no ataque a 23 mulheres, das quais 10 foram brutalmente assassinadas e violentadas na vegetação densa do Parque do Estado.

Conforme o caos e o medo se espalham pela cidade, o filme constrói a tensão crescente nas investigações. Elena, cada vez mais próxima da verdade, consegue, com a ajuda de uma testemunha, elaborar o retrato falado do criminoso. O diretor Mauricio Eça, que também esteve à frente de “A Menina que Matou os Pais”, baseado no caso de Suzane von Richthofen, aplica em “Maníaco do Parque” uma fórmula já testada em thrillers criminais americanos. Contudo, o filme acaba por tropeçar em inúmeros clichês narrativos, entregando cenas que em certos momentos beiram o exagero e o risível.

Apesar da intenção de provocar reflexões sobre a invisibilidade das vítimas, o longa falha em dedicar a devida atenção a elas. As mulheres assassinadas são tratadas de forma superficial, sendo mencionadas apenas como figuras periféricas na trama. A única vítima que ganha algum destaque é Raquel, retratada no filme como Cristina (Bruna Mascarenhas), que ligou minutos antes de ser morta para uma prima, mas mesmo essa abordagem é limitada. O foco do filme permanece nos dilemas pessoais e profissionais de Elena, fazendo com que as verdadeiras vítimas, mais uma vez, sejam ofuscadas em um relato que deveria ser sobre elas.

Com um enredo que mistura investigação e drama pessoal, “Maníaco do Parque” tenta explorar a mente doentia de um assassino e os bastidores de um jornalismo ainda cheio de preconceitos. Contudo, ao não oferecer uma abordagem realmente inovadora dentro do gênero de true crime, o filme se torna previsível, falhando em entregar um impacto emocional mais profundo ou um olhar verdadeiramente crítico sobre os crimes e suas consequências para as vítimas.


Filme: Maníaco do Parque
Direção: Maurício Eça
Ano: 2024
Gênero: True Crime
Nota: 8

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.