O maior sucesso do cinema italiano: filme ficou 12 semanas no Top 10 da Netflix e foi visto por 86 milhões de espectadores Emilio Pareda / Netflix

O maior sucesso do cinema italiano: filme ficou 12 semanas no Top 10 da Netflix e foi visto por 86 milhões de espectadores

No desfecho de “Destinos à Deriva”, Mia (Anna Castillo) confidencia à sua filha: “Ninguém vai acreditar quando contarmos o que vivemos, mas nós saberemos”. A incerteza sobre o destino delas permanece até o fim, enquanto mãe e bebê seguem à deriva no mar, onde tudo pode mudar a qualquer momento. O filme, dirigido por Albert Pintó e roteirizado por Indiana Lista, Ernest Riera e Seanne Winslow, impacta profundamente ao refletir a tragédia contemporânea dos refugiados, forçados a fugir de regimes autoritários, apenas para enfrentar a vastidão do oceano como seu próximo desafio.

A trama acompanha a jornada de Mia, uma mulher grávida que, junto ao marido, Nico (Tamar Novas), tenta escapar de um país não identificado, governado por um regime opressor. A fuga, marcada por tensão e incertezas, toma um rumo inesperado quando o casal é separado durante uma operação clandestina. Nico é levado para um contêiner diferente, enquanto Mia, única sobrevivente de sua unidade, escapa da morte por se esconder a tempo dos disparos militares. Em um instante, ela se vê à deriva em um contêiner danificado e perfurado por balas, que lentamente afunda nas águas profundas.

Com apenas alguns itens básicos de sobrevivência e contato intermitente pelo celular, Mia luta contra o tempo e as condições adversas, aguardando o resgate de Nico. No entanto, a comunicação se perde quando seu telefone para de funcionar, forçando-a a encontrar outras maneiras de sobreviver e proteger sua filha em meio à crescente ameaça do oceano.

O que já parecia desesperador se agrava quando uma tempestade atinge o contêiner e Mia entra em trabalho de parto sozinha. Ela dá à luz sua filha, Noa, cujo nome é uma homenagem à avó e carrega a simbologia do Noé bíblico, sobrevivente de um dilúvio. Noa também ecoa a figura de Wilson, a bola que se torna a única companhia de Chuck Noland (Tom Hanks) em “Náufrago”. Assim como Noé e Wilson, a pequena Noa representa a conexão emocional que mantém Mia firme em sua luta pela sobrevivência.

Com o nascimento da filha, Mia encontra uma nova fonte de motivação. Não basta mais sobreviver; agora, ela precisa garantir que ambas saiam vivas daquela situação extrema. A narrativa conduz o espectador por momentos de tensão absoluta, revelando as habilidades improvisadas de Mia e seu instinto de sobrevivência em situações quase impossíveis. Cada decisão tomada desperta reflexões sobre os limites da resistência humana e o que somos capazes de fazer quando a vida de alguém que amamos está em risco.

Anna Castillo oferece uma atuação visceral e impressionante, sustentando o filme praticamente sozinha. Sua entrega emocional faz com que cada cena seja crível, mesmo diante de momentos em que o roteiro pode parecer forçado ou irreal. A atriz nos envolve em sua jornada angustiante, alternando entre a claustrofobia de estar confinada em um espaço exíguo e a sensação de vulnerabilidade completa ao ser arremessada nas águas infinitas do oceano.

O longa provoca desconforto ao explorar dois medos universais: o aprisionamento e a imensidão. De um lado, Mia enfrenta o confinamento sufocante do contêiner, prestes a ser esmagada pela pressão das águas. De outro, ela se vê exposta e indefesa com sua bebê, perdida em alto-mar, à mercê da vastidão inóspita e do perigo invisível de criaturas marinhas. A dualidade entre esses cenários cria uma narrativa intensa, onde a esperança e o medo se entrelaçam em uma batalha constante pela sobrevivência.

“Destinos à Deriva” é uma obra poderosa e angustiante que não apenas revela a fragilidade humana diante da natureza, mas também nos faz refletir sobre o poder do amor e da determinação. A jornada de Mia é um testemunho silencioso sobre até onde somos capazes de ir para proteger quem amamos, mesmo quando tudo parece perdido.


Filme: Destinos à Deriva
Direção: Albert Pintó
Ano: 2023
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 8/10