“O Preço da Verdade”, dirigido por Todd Haynes, mergulha nas profundezas de um drama judicial real, ambientado na cidade de Parkersburg, Virgínia Ocidental. O enredo se desenvolve a partir de uma descoberta angustiante: o fazendeiro Wilbur Tennant, interpretado por Bill Camp, suspeita que a gigante química DuPont está envenenando suas terras e eliminando seu rebanho.
Desesperado, Tennant busca auxílio do advogado Rob Bilott, vivido por Mark Ruffalo, que inicialmente reluta em aceitar o caso, mas logo se depara com provas irrefutáveis de que há algo profundamente errado. Vários bovinos estão mortos, e a água local revela sinais visíveis de poluição. Ao investigar a fundo, Bilott descobre que a DuPont vem despejando substâncias químicas tóxicas, causando um impacto devastador tanto no ecossistema quanto na saúde da comunidade.
Com a convicção de que a DuPont é responsável por essa catástrofe ambiental, Bilott inicia uma batalha judicial contra a empresa, acusando-a de negligência criminosa. Contudo, enfrentar uma multinacional com recursos praticamente ilimitados e uma equipe de advogados poderosos se prova um desafio colossal. A empresa usa de táticas legais para prolongar o caso, transformando-o numa verdadeira maratona de desgaste físico, emocional e financeiro para o advogado. Não bastasse a pressão externa, Bilott enfrenta resistência dentro de seu próprio escritório de advocacia, que teme as consequências dessa luta desigual.
O ácido perfluorooctanóico, o elemento central dessa trama, é uma substância altamente tóxica e usada na produção de teflon. Embora seu uso seja amplamente difundido devido à durabilidade do material, as implicações à saúde são alarmantes. Classificado como um agente potencialmente cancerígeno, o ácido não se degrada facilmente, acumulando-se no meio ambiente e provocando danos severos à população exposta. A cada nova descoberta, Bilott se vê mais determinado a impedir que o teflon continue sendo produzido sem controle, mesmo que isso signifique colocar sua carreira e sua vida em risco.
O filme aborda de maneira sensível e crítica as repercussões da contaminação ambiental, mostrando como a poluição química desencadeia uma série de enfermidades, incluindo o surgimento de cânceres e malformações congênitas em recém-nascidos. Além de enfrentar uma batalha jurídica, Bilott precisa conquistar a confiança e o apoio da comunidade, que sofre diretamente os efeitos desse envenenamento ambiental. Sua luta não é apenas contra a DuPont, mas também contra a inércia e o medo que paralisam os habitantes locais.
Mark Ruffalo, que também é produtor do longa, mergulhou de cabeça no papel, reunindo-se diversas vezes com o verdadeiro Rob Bilott para entender sua trajetória emocional e profissional. O ator buscou capturar a essência de um homem que, mesmo pressionado por todos os lados, não recua diante da injustiça. A dedicação do elenco é um ponto alto da produção, que, apesar de contar com um orçamento modesto de 11 milhões de dólares, reúne grandes talentos como Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Pullman, Victor Garber, e Mare Winningham. Nenhum deles estava motivado por grandes cachês, mas sim pela relevância da história que estavam contando.
A narrativa se mantém fiel à simplicidade dos fatos, sem recorrer a efeitos especiais exagerados. O foco é o roteiro meticuloso, as atuações genuínas e a fotografia sombria, que traduz o peso das questões levantadas. A DuPont, por sua vez, não ofereceu qualquer colaboração à produção, o que reforça a atmosfera de tensão e mistério que permeia o filme.
Com uma crítica social e ambiental poderosa, “O Preço da Verdade” foi aclamado pela crítica, conquistando 89% de aprovação no Rotten Tomatoes. A produção não apenas lança luz sobre um caso histórico, mas também levanta reflexões urgentes sobre os limites éticos das grandes corporações e os custos humanos da poluição industrial.
Filme: O Preço da Verdade
Direção: Todd Haynes
Ano: 2019
Gênero: Thriller/Drama/Mistério/Biografia
Nota: 9