Com 96% de aprovação no Rotten Tomatoes, drama com Scott Andrew e Paul Mescal está no Disney+ Divulgação / Searchlight Pictures

Com 96% de aprovação no Rotten Tomatoes, drama com Scott Andrew e Paul Mescal está no Disney+

Drama dirigido por Andrew Haigh, que ele coescreveu com Taichi Yamada, “Todos Nós Desconhecidos” mescla realidade e fantasia para contar a história de Adam (Andrew Scott), um roteirista que lida com a perda e a solidão. Adam se envolve romanticamente com seu vizinho, Harry (Paul Mescal), mas a ausência de um amor pleno o transforma em uma pessoa introspectiva e melancólica. Em meio a esse isolamento, ele decide revisitar a casa onde cresceu, uma decisão que traz à tona não apenas memórias, mas também uma jornada emocional intensa.

A visita à antiga casa de seus pais revela uma experiência sobrenatural que desafia a lógica: embora seus pais tenham falecido há décadas, Adam os reencontra no local, vivendo como se o tempo não tivesse passado. Nesse espaço, a presença dos pais não é simplesmente uma lembrança, mas uma manifestação vívida que interage com ele. Eles cuidam de Adam quando ele adoece, compartilham refeições, montam a árvore de Natal e permite que ele durma na cama do casal pela última vez. Esses encontros vão além do surrealismo, permitindo a Adam uma chance de resolver conflitos profundos que nunca foram abordados em vida, principalmente relacionados à aceitação de sua sexualidade e sua desconexão emocional.

O longa é uma jornada introspectiva e intimista pelas emoções e memórias de Adam, oferecendo um mergulho nas complexidades do luto e da reconciliação com o passado. À primeira vista, a narrativa pode parecer fragmentada e desconexa, mas Haigh constrói o roteiro de forma a dar um desfecho coeso, oferecendo ao espectador uma compreensão mais profunda dos traumas e das angústias do protagonista. A convivência entre Adam e os pais, assim como sua relação com Harry, revela momentos de extrema vulnerabilidade emocional, especialmente em cenas onde o silêncio e o olhar carregam tanto significado quanto as palavras. O filme é, assim, uma exploração íntima e delicada da mente e do coração de Adam, convidando o público a refletir sobre os aspectos mais sutis e dolorosos do amor e da perda.

Embora o roteiro não seja explícito, há indícios de que Harry, assim como os pais de Adam, pode ser mais uma memória, desta vez de um passado mais recente. Talvez, o verdadeiro luto de Adam seja pela perda de Harry, e não apenas pelos pais. A jornada de Adam, então, se divide entre um presente mais imediato, marcado pela ausência de Harry, e um passado distante, que ele ainda precisa reconciliar. É possível que o amor de Harry tenha sido o gatilho que permitiu a Adam aceitar sua sexualidade plenamente e encontrar forças para se abrir, mesmo que seja de maneira simbólica, para seus pais, que, nesse contexto sobrenatural, representam as barreiras não superadas de sua vida.

O filme desenvolve esse arco de forma sensível, com Haigh conduzindo a narrativa sem pressa, permitindo que os diálogos entre Adam e seus pais — conversas que talvez nunca tenham ocorrido enquanto estavam vivos — sirvam como uma espécie de catarse. Essa reconciliação com o passado é essencial para que Adam consiga, finalmente, seguir em frente. No entanto, essa aceitação não vem sem dor. O relacionamento com Harry, seja ele real ou apenas uma lembrança moldada pelas necessidades emocionais de Adam, é uma âncora que o ajuda a enfrentar seus fantasmas internos. A partir desse ponto, o espectador é levado a questionar até que ponto a narrativa é real ou apenas uma manifestação das emoções do protagonista, o que intensifica a complexidade do enredo.


Filme: Todos Nós Desconhecidos
Direção: Andrew Haigh
Ano: 2023
Gênero: Romance/Drama
Nota: 9