Dan Levy faz sua estreia como diretor em longa-metragem com “O Outro Lado da Dor”, que explora o luto vivido por Marc, seu protagonista, no ano que se segue à perda de seu marido. Levy, que também assume o papel principal, leva o espectador a acompanhar o vazio deixado por um relacionamento de anos. Compartilhando todos os aspectos da vida com alguém, desde amigos até hobbies, o que resta a fazer quando essa pessoa se vai? Como encarar o mundo sozinho após tanto tempo vivendo sob a perspectiva de um “nós”?
A premissa do filme faz lembrar obras como “P.S. Eu Te Amo”, onde o luto e a dor da ausência do ser amado dominam a narrativa. Assim como a personagem de Hilary Swank, que se vê presa em sua tristeza, incapaz de retomar o curso da vida sem seu parceiro, Marc também enfrenta esse abismo emocional. A diferença, porém, está na intensidade da realidade. No mundo real, a perda de um grande amor pode ser ainda mais brutal. No caso de Marc, essa dor se intensifica à medida que ele tenta preencher o vazio deixado por Oliver, seu falecido marido, com a ajuda dos amigos Sophie (Ruth Negga) e Thomas (Himesh Patel). No entanto, esse apoio raramente é oferecido de forma carinhosa, com seus amigos o forçando a seguir adiante de maneira dura e, por vezes, impessoal.
Oliver, vivido por Luke Evans, era um escritor de sucesso, conhecido por seus livros juvenis e por deixar uma boa herança financeira. Morto em um acidente de carro, ele havia escrito uma última carta para Marc, mas o viúvo ainda não tivera coragem de abri-la. Quando finalmente decide ler as palavras deixadas por seu marido, as revelações contidas nela abalam completamente sua visão do relacionamento. Além disso, Marc recebe a notícia de que o contrato de aluguel de um apartamento em Paris está prestes a expirar, algo que ele desconhecia. Surpreendentemente, descobre que Oliver mantinha esse imóvel, destinado a duas pessoas, um segredo que só reforça as suspeitas de uma vida paralela que Marc jamais imaginou.
Diante dessa descoberta devastadora, Marc se vê diante de um dilema: como contar aos amigos, que o apoiaram por tanto tempo, que seu casamento idealizado era uma mentira? Sophie e Thomas, que o acompanharam durante todo o processo de luto, já estavam esgotados de tanto oferecer apoio e empatia. Expor a traição de Oliver, revelando que seu marido o enganava com outra pessoa em Paris, seria demais para eles. Afinal, Thomas chegou ao ponto de se mudar para a casa de Marc após a morte de Oliver, dedicando-se integralmente ao amigo.
Com isso em mente, Marc decide arquitetar um plano para encarar a dolorosa verdade por conta própria. Ele convida Sophie e Thomas para um fim de semana no apartamento em Paris, fingindo que já estivera lá com Oliver, e sem revelar os detalhes mais sombrios do lugar. Sua verdadeira intenção é descobrir a identidade do amante de seu marido. Ao chegar na cidade, Marc descobre que o outro homem é um jovem dançarino, bem mais novo que Oliver. Digerir essa verdade, somada às complexidades de suas amizades, faz com que Marc se afunde ainda mais em sua dor, enquanto tenta equilibrar suas emoções e manter a paz com Sophie e Thomas, que também enfrentam seus próprios conflitos pessoais.
As cenas em Paris são marcadas por diálogos densos e intensos, onde cada personagem tenta lidar com seus próprios dramas enquanto interage com os outros. O filme de Levy exige do público uma sensibilidade apurada, já que as conversas frequentemente se tornam confrontos de egos e revelações dolorosas. O resultado é um melodrama emocionalmente carregado, que, apesar de ser sua primeira empreitada como diretor, mostra o potencial de Levy em lidar com temas delicados e incômodos, tocando fundo em quem se dispuser a encarar as camadas de tristeza e desilusão que permeiam a vida de Marc.
Filme: O Outro Lado da Dor
Direção: Dan Levy
Ano: 2023
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 8/10