Baseado em livro de Luke Karamazov, o filme no Prime Video conta a história de um dos maiores serial killers da história

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Só mesmo Jacob Elordi para fazer de um assassino em série debochadamente sórdido alguém digno da simpatia mais genuína do espectador. Nos últimos doze meses, Elordi, o novo queridinho de Hollywood (com todo o mérito), tem subido cada vez mais alto no conceito de diretores de todas as vertentes, e agora, “He Went That Way” talvez seja a grande virada do mocinho bonito para uma fieira de antagonistas monstruosos, todos, por óbvio, plenos daquele jeitinho adorável de modelo de calça jeans. Jeffrey Darling (1962-2022) capta essa essência naturalmente dicotômica do ator a fim de tornar quase plausível um enredo caótico, como sói acontecer, inspirado num caso da vida como ela é. Num cálculo metódico, de dificílimo arranjo, o roteiro de Evan M. Wiener, firmemente apoiado na nostalgia que os anos 1960 ainda evocam, dissocia o galã do vilão, mas só até certo ponto, o que não contribui para a algaravia semântica acerca de bem e mal, uma constante aqui.

É inútil negar: assassinos em série exercem um fascínio sobre pobres mortais que vivem de acordo com suas posses, não têm ninguém que se compadeça de seus dramas íntimos e, não raro, arrastam-se de um para outro hospital, procuram colocação à porta de empresas, em filas que avançam da calçada para a rua, incapazes de perceber o absurdo que reside no fundo da questão. Bandidos de todos os coturnos têm experimentado um gosto de celebridade ao longo dos anos, ajudados pelas releituras históricas de determinados filmes que, além de mentirosas, fedem à mais descarada apologia ao crime. Esse é um risco palpável em “He Went That Way”. Depois de consertar uma avaria no motor do carro na oficina de Willard, o mecânico rude, mas justo, de Christopher Guyton, Jim, um adestrador de primatas e outros bichos para apresentações em programas de televisão, está pronto para viajar a noite toda, daCosta Oeste a Chicago, quando vê um sujeito longilíneo pedindo carona à beira da estrada. Ele não sabe, mas sua vida nunca mais será a mesma ao se dirigir àquele belo diabo.

Darling gira o eixo da história em torno do encontro quase onírico de Jim e Bobby, que não viajam sozinhos. Na carroceria, numa jaula adaptada ao veículo, está Spanky, um chimpanzé que os fãs de Ed Sullivan (1901-1974) como Bobby reconhecem logo. Aos poucos, o diretor mistura o bizarro da situação — Spanky, como um nota, não é um macaco, mas uma pessoa (a atriz Phoenix Notary) fantasiada — a toques de homoerotismo violento, nas cenas difíceis que Elordi divide com Zachary Quinto, numa estranha referência ao seu capitão Spock dos longas da franquia “Star Trek”. Assim mesmo, essa jornada ao desconhecido da alma humana tem lances impressionantemente ousados, sem a necessidade de nenhum grande efeito especial. Mérito de Elordi e Quinto, nessa ordem.


Filme: He Went That Way
Direção: Jeffrey Darling
Ano: 2023
Gêneros: Thriller/Crime
Nota: 8/10