O filme mais subestimado de Nicolas Cage está na Netflix Divulgação / Netflix

O filme mais subestimado de Nicolas Cage está na Netflix

A alma de cada homem é como um rio, em que correm mistérios de diferentes gradações. Os mais inofensivos, que remetem a segredos que todos ao seu redor já conhecem, se agrupam num bloco maciço e coeso, e flutuam na superfície, escondendo os segredos realmente dignos da curiosidade, da admiração e do escândalo das outras pessoas, que, naturalmente têm seus próprios monstros e tesouros a manter a salvo do apetite alheio. Vive bem no fundo de cada um de nós uma criatura feita a nossa imagem e semelhança, que quase não conhecemos e contra a qual podemos muito pouco, desafiando-nos com suas provocações — uma ideia que resiste em “A Ilha”.

Um ex-fuzileiro naval ensebado e rabugento é a encarnação do isolamento no filme de Stephen Campanelli, até que esse gosto desmedido por afastar-se de tudo e de todos degringola em psicopatia e morte, lembrando-nos de que não somos assim tão perfeitos quanto imaginamos, e que se levarmos adiante essa intenção de passar por cima de nossa essência torturada e vendermos a ideia sabidamente enganosa da excelência em tudo, ela emerge e toma o controle, espalhando sem clemência dor e sofrimento por todo lado, sendo o nosso quinhão o primeiro do montante.

Há muita coisa em nós mesmos com que não sabemos lidar e que desencadeiam uma tempestade de sentimentos controversos e destrutivos que inunda nossa vida. O roteiro de Rich Ronat e Iver William Jallah brinca com alguns dos clichês do noir, concentrando a ação em duas duplas de personagens. Depois que vai parar na casa de Walker, Buddy passa a viver num universo paralelo, onde todas as suas carências podem ser supridas por Francine, a esposa do veterano da Guerra do Vietnã (1955-1975) que os manipula como quer. Francine, cujo apelido é, não por acaso, Fancy, sem dúvida, é uma vítima do marido, mas não é nenhum anjo, insinuando-se para Buddy sempre que pode. Num primeiro instante, Campanelli fixa-se em Nicolas Cage, passando para KaDee Strickland, e daí para o Buddy de Luke Benward, o idiota útil aqui. Lamentavelmente, o detetive Jones de Kelsey Grammer, talvez a figura mais estimulante da história, fica limitado aos cinco minutos finais; ainda assim, “A Ilha” faz aquilo a que se propunha desde o início: confundir e instigar, num jogo erótico e perigoso que confunde o bem com o mal.


Filme: A Ilha 
Direção: Stephen Campanelli
Ano: 2019
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10