Na HBO Max: adaptação de livro que ficou por 90 semanas na lista de best sellers do New York Times e vendeu 4 milhões de cópias Divulgação / Columbia Pictures

Na HBO Max: adaptação de livro que ficou por 90 semanas na lista de best sellers do New York Times e vendeu 4 milhões de cópias

Se eu dissesse que entendi perfeitamente o que “É Assim que Acaba”, filme dirigido por Justin Baldoni e baseado no livro de Colleen Hoover, pretende transmitir, estaria mentindo. Não li o livro e conheci o filme apenas algumas horas atrás. A verdade é que ainda não consegui compreender inteiramente.

Na trama, Lily (Blake Lively) é uma mulher que se muda para Boston e decide abrir uma floricultura. Logo no início, ficamos sabendo sobre a morte de seu pai, e, em uma cena no terraço de um prédio, ela reflete sobre a relação conturbada que teve com ele. Nesse momento, ela conhece Ryle Kincaid, um neurocirurgião charmoso e aparentemente decente, com quem compartilha uma noite romântica. Eles se conectam após uma breve conversa sobre o nome de Lily, de certa forma irônico, já que ela se chama Lily Blossom Bloom e está prestes a inaugurar uma floricultura.

Nos primeiros dias de funcionamento de sua loja, Lily conhece Allysa (Jenny Slate), que logo se torna sua funcionária. Por coincidência, Allysa é irmã de Ryle. Ao perceber que Lily e seu irmão têm uma conexão e estão iniciando um romance, Allysa prontamente alerta a nova amiga sobre o comportamento de Ryle. Ela o descreve como um homem mulherengo e que não se envolve em relacionamentos sérios.

Contudo, o relacionamento entre Lily e Ryle evolui de maneira inesperada. Ryle acaba se envolvendo profundamente com Lily. O relacionamento, que começa com encontros casuais, logo se transforma em um namoro e, posteriormente, em um casamento. Paralelamente ao desenvolvimento do romance, o filme traz flashbacks da juventude de Lily, mostrando um relacionamento anterior com Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), seu primeiro amor. Atlas é um jovem marcado por traumas pessoais, e Lily, na época, era um ponto de apoio e segurança para ele. Anos depois, enquanto Lily está envolvida com Ryle, Atlas reaparece, reacendendo antigas emoções e gerando um conflito emocional na protagonista.

O comportamento de Ryle, entretanto, começa a se revelar problemático. Episódios esporádicos de explosões de raiva e agressividade evoluem e se tornam cada vez mais comuns, indicando claramente que ele é um homem abusivo. O retorno de Atlas à vida de Lily intensifica a impulsividade e a violência de Ryle, culminando em um incidente grave que leva Lily a tomar a decisão de deixá-lo.

O que o filme falha em retratar adequadamente é a verdadeira natureza de Ryle como vilão da história. Seus atos de violência são, de certo modo, atenuados ao longo da narrativa, transformando-o em um personagem que, na maior parte do tempo, aparece como doce, carismático e sedutor. Essa abordagem acaba por diluir o impacto da violência doméstica retratada no enredo. Em vez de mostrar com clareza a gravidade de seus atos, o filme parece, em alguns momentos, relativizá-los, o que gera confusão sobre o real propósito da história. Se o objetivo era destacar que agressores podem ser homens bem-sucedidos, respeitados e aparentemente encantadores, o filme poderia ter deixado essa mensagem mais explícita.

Há rumores de que diferenças criativas entre o diretor Justin Baldoni e a produtora e atriz Blake Lively influenciaram o resultado final do filme. Durante o período de lançamento, surgiram notícias de que Baldoni queria que a abordagem do filme fosse mais direta e incisiva, enquanto Lively optava por uma narrativa mais leve. Esse conflito criativo teria sido tão intenso que ambos não teriam participado juntos dos eventos promocionais da produção. Quando questionado sobre a possibilidade de dirigir uma sequência, Baldoni teria sugerido que Lively seria uma escolha mais adequada para a direção.

“É Assim que Acaba” tem uma narrativa que, embora trate de temas complexos como abuso emocional e violência doméstica, acaba falhando em aprofundar essas questões de forma satisfatória. A forma como o personagem de Ryle é retratado gera ambiguidades que podem confundir o espectador sobre a gravidade de suas ações, e a tensão emocional que a história pede é diluída por escolhas criativas que priorizam uma suavidade narrativa. Mesmo com essas falhas, o filme tenta, de algum modo, trazer à tona a realidade dolorosa de mulheres que enfrentam esse tipo de relação, ainda que não explore isso com toda a profundidade necessária.


Filme: É Assim Que Acaba
Direção: Justin Baldoni
Ano: 2024
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10