Algumas pessoas possuem um carisma tão natural que, sem perceber, conquistam o que querem com um simples gesto, desmontando a resistência alheia com facilidade. Eddie Morra, o personagem principal de “Sem Limites”, vive essa transformação ao experimentar o sucesso, a riqueza e a fama de maneira incomum: não pelos seus esforços ou talento, mas graças a uma pílula especial que destrava o potencial adormecido em sua mente, eliminando o caos que antes o dominava.
Embora seja possível imaginar que Morra, por seus próprios meios, encontraria um jeito de escapar das confusões em que se mete, o filme de Neil Burger sugere que sua trajetória caótica, apesar de mantida com certo charme, exigia uma intervenção dramática — a pílula mágica — para lhe oferecer uma saída espetacular, ainda que temporária. Com o tempo, no entanto, a maré de sorte que o impulsiona começa a virar. Para quem assiste com um olhar mais atento, o roteiro de Leslie Dixon, inspirado no romance “The Dark Fields” de Alan Glynn, publicado em 2001, traz ecos claros de “Flores para Algernon”, a obra de ficção científica escrita por Daniel Keyes em 1959 e adaptada para a TV em 2000. Apesar dessas influências evidentes, “Sem Limites” consegue firmar sua própria identidade, sustentando-se por seus méritos, apoiado em dois pilares centrais.
A narrativa do filme ganha força em um momento de tensão máxima, quando Morra, à beira do desespero, cogita pular de um prédio. Sua vida está em ruínas: ele havia fechado um contrato para escrever um livro, mas está completamente paralisado por um bloqueio criativo que o atormenta há semanas. A sensação de fracasso cresce à medida que seu sonho de riqueza e prestígio vai se desintegrando. É nesse ponto que o destino intervém. Burger constrói essa dualidade em torno de Morra, um homem talentoso, mas incapaz de controlar seus impulsos destrutivos. E o empurra a um encontro inesperado com Vernon, o ex-cunhado que não via há quase dez anos, interpretado por Johnny Whitworth. Vernon apresenta a Morra a droga revolucionária que altera suas percepções, permitindo-lhe finalmente concluir o livro e revelar novas habilidades, incluindo a criação de uma fórmula matemática capaz de prever resultados financeiros — um poder que, nas mãos da indústria farmacêutica, poderia revolucionar o tratamento de distúrbios cognitivos.
O ator Bradley Cooper transforma o que poderia ser um personagem comum em algo memorável, principalmente quando contracena com Robert De Niro, que interpreta Carl Van Loon, um magnata implacável cuja ganância é uma força palpável na trama. A interação entre os dois personagens eleva o filme a um patamar mais interessante. Embora “Sem Limites” flerte com a previsibilidade e tenha momentos que quase o tornam esquecível, há lampejos de genialidade, graças ao talento de Cooper e De Niro, que infundem profundidade e energia à narrativa.
Filme: Sem Limites
Direção: Neil Burger
Ano: 2011
Gêneros: Thriller/Ficção científica
Nota: 8/10