As produções cinematográficas sempre foram alvo de curiosidade por parte do público, especialmente no que diz respeito aos seus bastidores. Desde os primeiros filmes, o universo por trás das câmeras e das grandes estrelas atraiu espectadores fascinados com o que acontece além da tela. Por quase sete décadas, esse interesse não diminuiu, mas, na verdade, se intensificou, revelando os segredos de uma indústria que já operou com câmeras imensas, cenários pintados à mão e atores elevados a status de ícones intocáveis. Mulheres fatais, heróis de smoking e confrontos clássicos entre caubóis e nativos em busca de riquezas, tudo isso compunha a magia de uma Hollywood que, apesar de mudar, sempre cativou.
Em “Babilônia”, Damien Chazelle claramente se inspira em clássicos como “Cantando na Chuva”, trazendo à tona a transição do cinema mudo para o falado, tema central no filme de Gene Kelly e Stanley Donen. No entanto, Chazelle não se limita a repetir fórmulas; ele imprime sua marca pessoal ao longo de quase três horas, utilizando um elenco talentoso para dar vida a cenas que, embora possam parecer familiares, trazem uma nova perspectiva. O caos que permeia a narrativa de “Babilônia” é, por si só, uma representação do processo caótico e desafiador de se fazer cinema, sem concessões fáceis ao espectador.
Logo no início do filme, uma sequência abre caminho para o caos visual: Manny Torres, um mexicano-americano que tenta se estabelecer em Los Angeles, é encarregado de transportar um elefante até uma festa excêntrica em Beverly Hills. O evento, organizado por um figurão da antiga Hollywood, serve de pano de fundo para introduzir o tom extravagante do filme. Uma das personagens mais marcantes, Nellie LaRoy, uma mulher ambiciosa e destemida, desafia convenções ao se infiltrar nessa festa, com a ajuda de Manny. A partir desse ponto, as trajetórias de Diego Calva e Margot Robbie se cruzam, trazendo um ritmo dinâmico à narrativa.
Chazelle faz questão de utilizar elementos sonoros, como diálogos, ruídos de pratos quebrando, latidos de cães e o barulho das árvores ao vento, para evocar a tensão crescente enfrentada pelos astros da época. As inovações técnicas eram vistas como uma ameaça constante, algo que cada personagem enfrenta de uma forma ou de outra. No entanto, Nellie parece imune a essas preocupações, enquanto Jack Conrad, interpretado por Brad Pitt, precisa lidar com a iminência do declínio de sua carreira. O personagem de Pitt representa a autoconfiança e a ilusão de invencibilidade que muitos astros do cinema carregam consigo, mesmo quando os ventos da mudança já estão soprando.
Nos dias de hoje, a fama é um jogo diferente, mas igualmente perigoso. Enquanto, no passado, o desafio era adaptar-se ao som, agora as armadilhas estão nas redes sociais e na proliferação de influenciadores digitais. Atores verdadeiramente talentosos enfrentam uma pressão cada vez maior para se adaptar, em um cenário em que a habilidade artística pode ser ofuscada pelo apelo rápido e efêmero da internet. No entanto, como o filme sugere, figuras lendárias como Clara Bow e Cary Grant pertencem a uma época em que o talento ainda brilhava de forma incontestável, algo que parece cada vez mais difícil de se encontrar hoje.
Filme: Babilônia
Direção: Damien Chazelle
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 10