Com Ben Affleck e Jennifer Aniston, comédia romântica que ensinou os millenials a desvendar os códigos da conquista está na HBO Max Divulgação / New Line Cinema

Com Ben Affleck e Jennifer Aniston, comédia romântica que ensinou os millenials a desvendar os códigos da conquista está na HBO Max

O desafio de traduzir a linguagem da sedução sempre foi imenso. No passado, quando os casamentos eram arranjados, não havia muito espaço para escolha pessoal: o destino de uma pessoa estava vinculado a outra em razão de interesses econômicos e políticos que envolviam as famílias. Hoje, a responsabilidade de encontrar alguém para compartilhar a vida recai sobre o indivíduo. A busca por um parceiro deixou de ser uma questão familiar e passou a ser uma tarefa pessoal e solitária.

Muitos acreditam que a internet facilitou a expansão dos relacionamentos, permitindo que as pessoas conhecessem outras que, fora do ambiente virtual, dificilmente cruzariam seus caminhos. De fato, a internet ampliou o alcance dos perfis. Entretanto, ela também trouxe novos obstáculos. O desafio agora é descobrir, entre uma multidão quase infinita de opções, quem realmente dá match com você na vida real, não apenas em um aplicativo.

As complicações não param por aí. Discussões e exposições de conversas privadas se tornaram comuns, bem como a polarização entre gêneros em debates online. As críticas mútuas sobre comportamentos de homens e mulheres se multiplicam, e muitos desses comportamentos acabam generalizados de maneira equivocada. Em vez de simplificar as interações, a internet parece ter criado novos empecilhos. A crítica de Zygmunt Bauman às “relações líquidas”, feita no início dos anos 2000, se mostra ainda mais pertinente hoje. As relações, que antes eram apenas fluídas, agora parecem gasosas, evaporando ao menor sinal de dificuldade.

A comédia romântica “Ele Não Está Tão a Fim de Você”, lançada em 2009, já aborda o impacto da internet na maneira como nos relacionamos. O filme tenta desvendar as complexidades da comunicação entre os gêneros, focando especialmente nos homens. O enredo acompanha diferentes personagens em uma estrutura de multiplot, sendo a protagonista Gigi (Ginnifer Goodwin) o elo que conecta as diversas histórias.

Gigi é uma jovem que busca encontrar o amor, mas, em sua jornada, se depara com vários desencontros amorosos. Ela luta para entender a linguagem dos relacionamentos, interpretando mal os sinais de desinteresse dos homens. Uma sequência introdutória mostra como, desde cedo, as mulheres são ensinadas a entender de forma equivocada as atitudes masculinas, acreditando, por exemplo, que quando um homem as maltrata, isso é um sinal de que ele a ama.

Essa “programação” social desde a infância tem sérias implicações nos relacionamentos futuros. Mulheres que crescem acreditando que homens que as tratam mal são, na verdade, seus príncipes encantados, acabam presas em relações tóxicas. Essa dinâmica as leva a buscar parceiros que não demonstram afeto, carinho ou interesse genuíno, condenando essas relações ao fracasso. Esse é o caso de Gigi, que, após um encontro frustrado com Connor (Kevin Connolly), começa a se aproximar de Alex (Justin Long), colega de apartamento de Connor. Alex, por sua vez, tenta ajudar Gigi a identificar os sinais de desinteresse masculino, e eles passam a conversar regularmente para discutir esses códigos.

Enquanto isso, Connor nutre sentimentos por Anna (Scarlett Johansson), com quem tem se relacionado casualmente. Anna, no entanto, se envolve com Ben (Bradley Cooper), um homem casado, o que complica ainda mais a trama. Ben, por sua vez, está em um casamento desgastado com Janine (Jennifer Connelly), e, embora saiba que sua atração por Anna pode ameaçar seu casamento, ele não consegue resistir.

Paralelamente, a amiga de Gigi, Beth (Jennifer Aniston), vive um relacionamento de longa data com Neil (Ben Affleck), que, apesar de sete anos juntos, nunca se interessou em formalizar a união. Inspirada pelos conselhos de Gigi, Beth decide terminar o relacionamento, acreditando que ele jamais se comprometerá. Por fim, Mary (Drew Barrymore), colega de Connor, trabalha em uma empresa de anúncios e o auxilia na divulgação de seus imóveis, completando o círculo de personagens e relações que o filme apresenta.

Através dessas tramas interligadas, o filme explora diferentes facetas dos relacionamentos modernos, destacando as dificuldades de se manter uma conexão genuína em tempos marcados pelo individualismo, superficialidade e desejo. Embora acerte ao retratar algumas dessas dificuldades, o longa peca ao reforçar estereótipos: as mulheres são frequentemente retratadas como emocionalmente carentes, enquanto os homens aparecem como distantes e racionais. Ainda assim, o filme captura, de maneira geral, os desafios contemporâneos das relações amorosas, em um mundo onde o amor é, muitas vezes, colocado em segundo plano frente aos interesses pessoais, vaidades e desejos momentâneos.


Filme: Ele Não Está tão a Fim de Você
Direção: Ken Kwapis
Ano: 2009
Gênero: Comédia/Romance/Drama
Nota: 8