Viagens revelam tanto sobre nós quanto sobre aqueles que nos cercam, principalmente quando acreditamos já conhecê-los bem. Mesmo nas jornadas improvisadas ou impostas por circunstâncias intransponíveis, adquirimos uma percepção mais afiada de quem está ao nosso lado, e essa visão nem sempre aponta para uma convivência tranquila.
A família retratada em “Limites” carrega nuances do conhecido pensamento tolstoiano sobre a complexidade das relações familiares, uma ideia aprofundada pela direção cuidadosa de Shana Feste. Os personagens estão em uma busca interna, movidos por dilemas íntimos que, embora universais, são apresentados de forma única, mérito da combinação precisa entre roteiro e atuações.
Laura Jaconi tenta, em uma sessão de terapia, convencer-se de que não sente falta de Jack, seu pai. Jack, por sua vez, esforça-se para reconstruir os laços que imagina estarem desfeitos. A diretora, logo de início, oferece pistas suficientes para percebermos que Laura, vivida com intensidade crescente por Vera Farmiga, enfrenta tempestades emocionais que transcendem sua relação paterna.
Farmiga, em uma atuação rica em detalhes, revela a fragilidade de Laura, alternando entre disfarçar o desconforto e amplificá-lo em cenas que capturam suas compulsões e vulnerabilidades. Na manhã seguinte, a rotina segue com Henry, o filho, e o caos de animais em casa, preparando o cenário para o verdadeiro início do filme.
Quando Jack liga mais uma vez, Laura descobre que ele será expulso do asilo onde vivia por cultivar maconha. Daí em diante, Farmiga e Christopher Plummer conduzem a narrativa, equilibrando a fragilidade da protagonista e a teimosa independência do pai, que enfrenta um câncer terminal.
A mágica aqui está no equilíbrio que Feste encontra, sem precisar de grandes reviravoltas. A dependência mútua entre Laura e Jack, sutilmente reforçada por JoJo, a espirituosa irmã caçula, sustenta a trama com força surpreendente.
Filme: Limites
Direção: Shana Feste
Ano: 2018
Gêneros: Comédia/Thriller
Nota: 9/10