Indicado a 122 prêmios, filme de Wes Anderson e Roman Coppola indicado ao Oscar está de volta à Netflix Niko Tavernise / Focus Features

Indicado a 122 prêmios, filme de Wes Anderson e Roman Coppola indicado ao Oscar está de volta à Netflix

A miséria humana se torna especialmente pesada quando tudo o que resta é o medo, o filho mais próximo do fracasso. A história segue seu curso imprevisível, alternando entre avanços e retrocessos com uma fluidez que intriga qualquer observador atento, sempre sujeito aos caprichos do tempo. Essas flutuações da civilização acabam sendo as responsáveis pelas surpresas que, de certo modo, dão sentido à trajetória dos seres humanos neste planeta, uma esfera aquosa perdida no vasto cosmos.

O medo, diante de situações incertas, não é uma falha nem uma virtude; é apenas uma resposta instintiva, e em muitos momentos, os homens são meramente a manifestação mais intrigante da vida que já surgiu por aqui. A necessidade incessante de validação, essa ânsia de provar que seguimos o caminho mais correto e fazemos as escolhas mais dignas, permeia o comportamento humano. Mesmo quando a intuição nos oferece respostas que o coração já conhece, se não nos enquadramos nos padrões estabelecidos, nos sentimos diminuídos.

Wes Anderson aborda essa sensação de desalento e incerteza existencial em “Moonrise Kingdom” (2012) através da história de um casal jovem — jovem demais, talvez —, que não se sente à altura das expectativas impostas e não se preocupa em atender a elas. O filme explora esses sentimentos primordiais da natureza humana, ao mesmo tempo em que reafirma a ideia de que a solidão é a força motriz das experiências mais enigmáticas da vida. Anderson é um dos cineastas mais criativos e únicos de sua geração.

Seu estilo inconfundível, que transforma as banalidades da vida em algo profundamente significativo, é o que torna seus filmes tão singulares. Em “Moonrise Kingdom”, ele mantém as características que permeiam sua filmografia, como visto em “Os Excêntricos Tenenbaums” (2001) e “O Grande Hotel Budapeste” (2014), mas com uma nuance diferenciada.

O roteiro, escrito por Anderson e Roman Coppola, situa a trama em 1965, em uma ilha que poderia muito bem estar em qualquer parte do mundo. Suzy Bishop, vivida por Kara Hayward, é uma garota que mora com seus pais e o irmão mais novo em um farol. O tédio local é aliviado pela presença de um acampamento de escoteiros, onde Sam, interpretado por Jared Gilman, enfrenta as dificuldades típicas da adolescência, incluindo a hostilidade de outros garotos mais velhos. Suzy e Sam se conheceram no verão anterior e começaram a trocar cartas, nas quais compartilham suas frustrações e sonhos, enquanto arquitetam a fuga que move a narrativa por boa parte dos 93 minutos de projeção.

Anderson faz um uso eficaz da narrativa epistolar, com um longo trecho em que os personagens de Hayward e Gilman leem e verbalizam suas correspondências, criando um efeito poético, e, em certos momentos, quase cômico. Ao mesmo tempo, o diretor introduz personagens secundários que adicionam leveza e dinamismo ao filme. O casamento superficial dos pais de Suzy, interpretados por Bill Murray e Frances McDormand, é um exemplo disso. Murray, como de costume, entrega uma atuação cheia de nuances, enquanto McDormand mantém seu padrão de excelência.

Outro destaque é a subtrama que envolve Sam, órfão, e a assistente social interpretada por Tilda Swinton, que adiciona um toque de realismo mágico ao filme, algo típico do estilo de Anderson. O sarcasmo presente em várias cenas, combinado com as metáforas visuais e o lirismo discreto, culmina em uma obra que encapsula perfeitamente o espírito de “Moonrise Kingdom” — uma produção genuinamente Andersoniana, com todas as características que tornaram seu cinema tão icônico e fascinante.


Filme: Moonrise Kingdom
Direção: Wes Anderson
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 9/10