Karel Reisz, cineasta tcheco morto em 2002, é lembrado por dirigir filmes aclamados como “Tudo Começou Num Sábado”, “Deliciosas Loucuras de Amor” e “A Noite Tudo Encobre”. Ganhador do BAFTA, uma de suas obras mais icônicas é o drama romântico “A Mulher do Tenente Francês”, adaptado do livro homônimo de John Fowles. Esse filme foi responsável pela primeira indicação de Meryl Streep ao Oscar de Melhor Atriz, consolidando sua carreira no cinema.
O longa não só destacou o talento de Streep, mas também recebeu outras quatro indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Edição. Além das indicações ao Oscar, a produção conquistou 11 prêmios e foi nomeada para outros 20, refletindo seu impacto na indústria cinematográfica. O filme também marcou a ascensão de Jeremy Irons, que teve ali seu primeiro papel de grande destaque no cinema.
A trama de “A Mulher do Tenente Francês” segue dois atores, Anna (Streep) e Mike (Irons), que, apesar de casados com outras pessoas, desenvolvem um relacionamento romântico durante as filmagens de um filme. Eles interpretam os personagens do livro de John Fowles, cuja história se desenrola no século 19. Nela, Sarah (Streep) é uma mulher excluída pela sociedade em Lyme Regis, que após ter um caso com um tenente francês casado acaba dependendo da ajuda de estranhos para sobreviver. Um desses estranhos é Charles Smithson (Irons), um aristocrata e paleontólogo que está noivo da filha de um comerciante bem-sucedido.
Inicialmente, Charles se aproxima com a intenção de ajudar a personagem de Anna, Sarah, a sair de Lyme e recomeçar sua vida longe dos julgamentos que sofreu devido ao relacionamento proibido, que a fez ser vista como uma mulher de má reputação. Sarah se apresenta como uma figura vulnerável, sempre à mercê da caridade alheia, enquanto Charles arrisca sua própria reputação para ajudá-la. No entanto, à medida que os dois se aproximam, Charles se apaixona por Sarah, ao ponto de romper seu noivado para estar com ela.
O filme, assim, não apenas explora o romance entre os personagens fictícios do século 19, mas também o envolvimento amoroso entre Anna e Mike fora das câmeras, desafiando questões éticas e morais, uma vez que ambos são comprometidos. Mike é casado e tem uma filha, enquanto Anna também possui um marido.
Ao mesmo tempo em que a narrativa apresenta Sarah como uma mulher frágil e marginalizada, vítima de uma sociedade que oprime e julga mulheres que não se enquadram nos padrões esperados, o longa revela um outro lado de sua personagem: uma mulher que subverte essas normas para recuperar o controle de sua própria vida. Sarah, então, não se limita ao papel de vítima; ela manipula as ações de outros personagens para garantir sua sobrevivência e, de certa forma, triunfar sobre as circunstâncias adversas. Suas atitudes, embora controversas, podem ser interpretadas como uma forma de empoderamento e de tomada de controle, evidenciando uma resistência às imposições sociais da época.
A mensagem de John Fowles é deixada em aberto para a interpretação do público, que deve decidir como julgar a misteriosa e cativante Sarah: seria ela uma vilã manipuladora ou uma heroína que luta por sua liberdade? A ambiguidade do filme convida o espectador a refletir sobre a complexidade dos papéis femininos e das relações amorosas, tanto na sociedade do século 19 quanto na atualidade, revelando as camadas que compõem cada personagem e sua busca por identidade e autonomia.
Filme: A Mulher do Tenente Francês
Direção: Karel Reisz
Ano: 1981
Gênero: Drama/Romance
Nota: 9/10