Roman Polanski é, sem dúvida, uma figura controversa e central na história do cinema, com uma trajetória pessoal e profissional marcada por episódios dramáticos e decisões polêmicas. Sobrevivente do Holocausto, o cineasta judeu nascido na Polônia viveu horrores ainda na infância, perdendo quase toda a família para o regime nazista. Tal como Wladyslaw Szpilman, o pianista que inspirou sua premiada obra “O Pianista”, Polanski enfrentou os desafios da guerra de forma visceral. Durante sua infância no gueto de Cracóvia, ele precisou fugir para as florestas e se esconder em fazendas, roubando comida e evitando ser capturado pelas tropas nazistas. Ao fim da guerra, reencontrou apenas seu pai, o único outro sobrevivente de sua família. O interesse pelo cinema surgiu ainda jovem, e, com o tempo, Polanski conquistou reconhecimento no cenário europeu e internacional. Seu filme “Repulsa” foi premiado com o Urso de Ouro, mas foi com “O Bebê de Rosemary”, em 1968, que ele consolidou seu nome mundialmente.
Entretanto, sua estadia nos Estados Unidos se revelou tão desafiadora quanto sua infância na Polônia. Enquanto promovia “O Bebê de Rosemary”, um evento trágico abalou sua vida pessoal: a seita liderada por Charles Manson invadiu sua casa e assassinou brutalmente sua esposa, Sharon Tate, que estava grávida. Devastado, Polanski deixou os Estados Unidos e retornou à Europa, mas seu vínculo com o país não foi completamente encerrado. Anos depois, ele voltou para dirigir “Chinatown”, outro clássico aclamado, mas novas turbulências marcariam sua vida. Em meio ao sucesso, Polanski foi acusado de ter relações sexuais com uma adolescente de 13 anos, crime pelo qual foi condenado. Para escapar da prisão, ele fugiu para a Europa e nunca mais retornou aos Estados Unidos, permanecendo em exílio até hoje.
Polanski é conhecido por criar filmes de drama e suspense com profundidade psicológica e intensidade emocional. Muitos de seus trabalhos tornaram-se referências incontornáveis no cinema, não apenas pelas narrativas complexas, mas também pela força das atuações que ele extrai de seus elencos. Entre os destaques de sua filmografia está a Trilogia dos Apartamentos, que inclui “O Inquilino”, filme no qual ele também atua e que é considerado uma obra essencial em sua carreira.
Outro exemplo notável é “O Último Portal”, protagonizado por Johnny Depp. Lançado em 1999, o filme é uma imersão em uma atmosfera densa, repleta de mistério e tensão. Diferente dos filmes de terror convencionais, Polanski constrói sua narrativa com uma abordagem única, entrelaçando paranoia e medo com uma estética envolvente e perturbadora. A claustrofobia e a neurose que permeiam seus filmes criam uma sensação de aprisionamento, tanto para os personagens quanto para os espectadores, que são levados a questionar a realidade e a sanidade ao longo da trama. A narrativa não entrega respostas claras, mas, ao contrário, deixa os espectadores com mais perguntas do que soluções, um elemento que se tornou uma marca do diretor.
Em “O Último Portal”, Depp interpreta Dean Corso, um especialista em livros raros que é contratado por Boris Balkan, um estudioso de ocultismo, para verificar a autenticidade de um livro que teria sido escrito com a colaboração do próprio Lúcifer. A obra em questão é rara e supostamente amaldiçoada, e apenas três exemplares existem no mundo. A missão de Corso, entretanto, rapidamente se transforma em uma jornada cheia de reviravoltas perigosas, marcada por assassinatos, enigmas e conspirações. A trama é enriquecida por cenários europeus de tirar o fôlego, incluindo castelos antigos, ruas de pedra e paisagens montanhosas, que conferem ao filme uma atmosfera sombria e enigmática.
Embora os efeitos visuais tenham envelhecido, o filme permanece relevante, preservando sua força narrativa e estética. A direção precisa de Polanski e sua capacidade de provocar desconforto e fascínio garantem que “O Último Portal” continue sendo uma obra intrigante. O cineasta, com sua habilidade em explorar os recônditos da mente humana e construir narrativas que desafiam a lógica, deixou um legado que atravessa gerações, reafirmando sua posição como um dos diretores mais singulares e impactantes de sua era.
Filme: O Último Portal
Direção: Roman Polanski
Ano: 1999
Gênero: Mistério / Terror / Suspense
Nota: 9/10