Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é tudo o que uma mulher gostaria de ser: bonita, famosa e bem-sucedida. Depois de anos sendo a estrela de um programa televisivo de aeróbica, ela começa a envelhecer e percebe que já não é mais tão esbelta como era na juventude. A situação piora ainda mais quando seu chefe decide demiti-la e substituí-la por uma moça mais jovem e bonita, com idade entre 18 e 30 anos.
Certo dia, um laboratório oferece a ela uma substância que mudaria totalmente sua vida. Essa seria a oportunidade perfeita para Elisabeth voltar aos dias de glória, ser reconhecida e amada novamente. Com este medicamento, ela seria capaz de gerar um segundo corpo dentro do seu próprio corpo. No entanto, este seria muito mais jovem, sensual e desejado do que qualquer outro. Seria verdadeiramente o corpo perfeito.
A partir dessa premissa, já é possível identificar que o conteúdo do filme abordará a pressão estética feminina e a ditadura da beleza. Mas o filme é muito mais do que isso. Elisabeth não é apenas uma personagem insatisfeita com o próprio corpo, ela é uma mulher solitária e depressiva, sem amigos, namorado ou família. Enclausurada dentro de um apartamento enorme, mas profundamente aprisionador, sua única esperança de ser feliz é por meio da fama, agora perdida, e que só poderá retornar se ela for bela novamente.
Coralie Fargeat, que assina o roteiro e a direção, explora os limites do absurdo de uma forma nunca vista no cinema. Desde a primeira cena, o filme deixa claro que não tem compromisso com a sutileza, e segue uma estética visceral do início ao fim. Isso é traduzido a partir dos planos de câmera e dos sons, que causam uma imersão muito realista. É como se estivéssemos dentro da casa de Elisabeth, observadores silenciosos da tortura grotesca e repugnante à qual ela se submete.
Quando aceita experimentar a substância, a primeira cena já é bastante chocante, quando Sue, a nova versão de Elisabeth, sai de dentro de seu corpo, rasgando suas vísceras e sua pele. Imediatamente, a nova versão não demonstra nenhum apreço ou cuidado por sua versão mais velha, deixando seu corpo original jogado no chão do banheiro, como se fosse a carcaça de um defunto.
A regra é simples: cada uma das versões precisa viver apenas uma semana, enquanto a outra sobrevive em estado vegetativo. Porém, esse limite não deve ser extrapolado. No entanto, Sue, a versão jovem e sedutora, atinge o objetivo de Elisabeth: tornar-se a nova apresentadora do programa de aeróbica do qual Elisabeth foi demitida. A partir desse momento, o equilíbrio começa a se perder. Como todas as escolhas de Sue têm consequências, o corpo de Elisabeth começa a se deteriorar e a envelhecer cada vez mais rapidamente.
As escolhas estéticas de Fargeat são surpreendentes, com cenas repulsivas que deixam o público enojado e surpreso a cada minuto. Sempre que Elisabeth retorna ao seu corpo original e Sue fica em estado vegetativo, a surpresa é maior, pois a cada vez ela fica mais velha e debilitada, tornando-se mais angustiante e desesperador.
Logo, já não é mais seu corpo que nos gera espanto; suas ações e emoções também são levadas ao limite, principalmente nos cenários e objetos usados nas cenas. A comida, que Elisabeth come compulsivamente para fugir da dor emocional, sua sala imponente, que representa o vazio interno que sente, e principalmente o banheiro, verdadeiro cárcere das emoções de Elisabeth, onde tudo acontece.
Quando Sue começa a extrapolar o limite de tempo estipulado pela substância, as consequências se manifestam no corpo de Elisabeth, que se torna monstruoso e fora da realidade. O filme toma proporções realmente repugnantes, e o público se vê envolvido em uma sequência grotesca de carne, órgãos e sangue, podendo causar reações físicas nos espectadores.
Substância provavelmente não alcançará grandes premiações comerciais, por ser um filme extremamente violento e pesado, mas sem dúvida trará um debate importante para os dias atuais. Um paralelo interessante com a realidade são medicamentos como Ozempic e Rybelsus, cada vez mais populares no mercado, além das dietas milagrosas e cirurgias estéticas invasivas que levam mulheres à morte.
A pressão estética feminina ainda não encontrou um limite, e talvez nunca encontre. Por esse motivo, Substância é uma obra necessária, que apresenta de forma explícita como a falta de autocuidado e a pressão estética podem adoecer e ferir profundamente as mulheres. Coralie Fargeat, por sua vez, deixa clara sua assinatura e a relevância de dirigir um filme como este, enquanto mulher.
Filme: A Substância
Direção: Coralie Fargeat
Ano: 2024
Gêneros: Terror/Ficção Científica
Nota: 10