“2001 — Uma Odisseia no Espaço (1968)” continua a ser o filme definitivo sobre a incursão do homem noutras galáxias — embora se tente até hoje superar o gênio de um inspiradíssimo Stanley Kubrick (1928-1999), casos, entre muitos outros, do mexicano Alfonso Cuarón, com “Gravidade” (2013); do certeiro Ridley Scott em Perdido em Marte (2015); e do chileno-sueco Daniel Espinosa, diretor de “Life” (2017), realizadores talentosos e competentes em seu ofício, cujas produções esmeraram-se para merecer figurar em algum ponto do universo desbravado por Kubrick. Gabriela Cowperthwaite é mais uma cineasta a juntar-se ao clube, e seu “Estação Espacial Internacional”, malgrado meio artificioso, tem grandes momentos. Em cerca de hora e meia, Cowperthwaite tece especulações instigantes e aterradoras sobre o que poderia acontecer se a tripulação russo-americana da unidade de pesquisa do título passasse a se autossabotar, devido a uma súbita reedição da Guerra Fria (1947-1991). O roteiro de Nick Shafir junta seis cientistas no ambiente claustrofóbico de um módulo que flutua pela via Láctea, até que o cristal se quebra e ninguém mais está a salvo.
Apesar de construída com a colaboração entre as agências espaciais de Estados Unidos, Rússia, Japão, Canadá e a ESA, a Agência Espacial Europeia, há apenas três astronautas americanos e três cosmonautas russos na EEI, que chegam até ela por meio da nave Soyuz. Pensada para fins estritamente científicos, a EEI hospeda uma variedade de experimentos voltados à medicina e ciência material e ao emprego tecnológico dos diversos recursos do espaço. A depender do que se consiga com essas atividades, cada um desses campos pode gozar de consideráveis progressos para a vida na Terra e nas futuras missões para outros planetas e, quiçá, galáxias bem mais distantes.
Nas primeiras cenas, é visível o clima amistoso entre os tripulantes, até que a diretora vai dando pequenas pistas de que, se alguma coisa desandar, cada qual tomará um rumo. Numa sequência aparentemente sem grandes solavancos, Kira, a astrofísica interpretada por Ariana DeBose, prova da acidez do russo Alexey Pulov, com Pilou Asbæk dando uma mostra ligeira do que os espera. É justamente Alexey quem lidera a insurreição silenciosa contra a América no momento em que recebe a notícia de que a Rússia enfrenta as tropas americanas num novo confronto bélico, o que implica a morte de Gordon Barrett, o comandante encarnado por Chris Messina.
Cowperthwaite brinca com um assunto sério, e brincamos com ela, afinal ninguém sabe como pode evoluir a distopia real em que vivemos neste insano século 21. A EEI pode operar até pelo menos a década de 2030 — se “Estação Espacial Internacional” não for uma profecia infeliz.
Filme: Estação Espacial Internacional
Direção: Gabriela Cowperthwaite
Ano: 2023
Gêneros: Ficção científica/Thriller
Nota: 8/10