História real e desesperadora sobre maior tragédia natural do século 20, com Ewan McGregor, está na Netflix Divulgação / Concorde Filmverleih

História real e desesperadora sobre maior tragédia natural do século 20, com Ewan McGregor, está na Netflix

O filme “O Impossível”, dirigido por Juan Antonio Bayona, trouxe ao público uma das representações mais intensas e autênticas de um desastre natural. Ao centrar sua narrativa na ilha de Khao Lak, na Tailândia, Bayona recria o impacto devastador do tsunami que varreu o continente asiático em 2004. Com uma precisão cirúrgica, ele narra os eventos trágicos de 26 de dezembro daquele ano, quando um terremoto submarino provocou uma onda gigantesca que destruiu tudo em seu caminho, com o epicentro em Sumatra, Indonésia. Bayona, em sua abordagem singular, transforma o horror em uma experiência cinematográfica visceral, mantendo o espectador imerso na trajetória de uma família britânica em férias, que se vê à mercê da força destrutiva do oceano.

O enredo se desenrola em três momentos marcantes. No primeiro, a tensão é construída lentamente até que a gigantesca parede de água engole Maria, Henry e seus três filhos, despedaçando o paraíso idílico em que estavam. Naomi Watts e Ewan McGregor dão vida ao casal Bennett, enquanto Tom Holland, em um de seus primeiros grandes papéis, já exibe o talento que viria a marcar sua carreira. A química entre os atores fortalece o drama e torna cada cena ainda mais intensa, destacando-se as interações de Holland com Watts, que renderam a ela uma indicação ao Oscar. A transformação de Lucas, o personagem de Holland, de um garoto assustado a um jovem determinado a salvar sua família, é um dos pontos mais emocionantes do filme.

Na sequência, o filme ganha uma dimensão profundamente humanitária, onde a luta pela sobrevivência e a preservação da esperança são os principais pilares. O diretor tece com habilidade momentos de desespero e coragem, explorando a resiliência dos personagens em meio ao caos. Lucas, por exemplo, se torna o verdadeiro herói da narrativa, procurando sua mãe enquanto enfrenta a dura realidade da catástrofe que os cerca. A interpretação de Holland é de uma maturidade impressionante para a idade, e muitos críticos concordam que ele já merecia uma indicação ao Oscar por este trabalho.

Enquanto Lucas segue sua jornada de reencontro, Henry empreende uma busca frenética por sua família, e McGregor oferece uma performance física intensa, ainda que menos emocionalmente complexa do que a de seus colegas de elenco. A atuação de McGregor pode não ser memorável, mas ele cumpre seu papel de maneira eficaz, com momentos de grande tensão. O destaque do filme, no entanto, é a força da narrativa visual e emocional, impulsionada pela cinematografia de Óscar Faura, que captura de forma magistral tanto a beleza quanto o terror do cenário devastado.

À medida que o filme se aproxima de seu desfecho, com a reunião da família, Bayona entrega uma conclusão que, embora previsível, não deixa de ser tocante. A fotografia de Faura, já amplamente premiada, coroa a obra com imagens impressionantes que complementam o roteiro de Sergio G. Sánchez. Ao longo do filme, Bayona equilibra o horror da destruição com momentos de ternura e solidariedade, algo que só pode ser alcançado com a habilidade de um diretor profundamente comprometido com sua visão artística.

“O Impossível” não apenas reconta um evento trágico, mas também explora a capacidade humana de resistir diante da adversidade. Mesmo quase vinte anos após o tsunami que devastou a Ásia, o filme mantém sua relevância, lembrando o público de que, embora a natureza possa ser implacável, o espírito humano é inquebrável.


Filme: O Impossível
Direção: Juan Antonio Bayona
Ano: 2012
Gênero: Drama
Nota: 9/10