A obra “Meu Nome é Chihiro” evoca comparações inevitáveis com a heroína de Hayao Miyazaki, especialmente pela coragem e espírito indomável da protagonista, características semelhantes àquelas de “A Viagem de Chihiro”. Porém, o filme de Rikiya Imaizumi apresenta nuances únicas. A Chihiro de Imaizumi é uma ex-prostituta que não carrega arrependimentos e segue em frente com a leveza de quem já superou o passado, adaptando-se a uma nova rotina e lidando com as adversidades cotidianas com resiliência. Diferente do enredo fantasioso de Miyazaki, o filme opta por explorar os detalhes da vida real de forma sutil e comedida.
Adaptado do mangá de Hiroyuki Yasuda, o roteiro de Imaizumi e Kaori Sawai, com Kasumi Arimura no papel principal, leva o público a acompanhar a vida de Chihiro em um bairro tranquilo. Ela deixou para trás o trabalho em uma casa de massagens e agora atua como ajudante em um restaurante de bentôs. A relação que estabelece com personagens ao seu redor, como o sem-teto Mestre e a ex-colega Basil, revela sua busca por conexões genuínas e sua eterna sensação de dívida emocional. A narrativa avança de forma linear, contrastando com a natureza épica dos contos de Miyazaki, e revela a dificuldade de transformar histórias aparentemente banais em algo profundamente significativo, um desafio que Imaizumi enfrenta com elegância.
Apesar das diferenças evidentes, a trajetória de Chihiro ecoa a complexidade de alguém que, mesmo livre das amarras do passado, ainda carrega resquícios emocionais. Ela não retorna à antiga profissão, mas a sombra de sua vida pregressa se reflete na sua necessidade de agradar e manter muitas amizades, como se precisasse da aprovação alheia para existir plenamente. O retrato de Chihiro feito por Arimura expressa uma luta interna em busca de autoaceitação, em que qualquer possibilidade de felicidade é questionada. O final sem grandes rupturas ou tragédias apenas reforça a persistência dessa sensação de dívida, indicando que o perdão completo talvez nunca chegue.
A melancolia presente na obra, tão característica de produções orientais, traz uma reflexão sobre a complexidade humana e a contínua busca por redenção. O filme apresenta a jornada de uma mulher que, mesmo após deixar para trás um passado complicado, continua precisando se orientar e lidar com a própria fragilidade. A mensagem é clara: errar é um direito, reconhecer o erro é um dever, e recomeçar é sempre uma escolha possível.
Filme: Meu Nome é Chihiro
Direção: Rikiya Imaizumi
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 10