Inspirado no humanismo existencialista de Jean-Paul Sartre, o romance mais esperado de 2024 acaba de chegar à Netflix Hilary Bronwyn Gayle / Netflix

Inspirado no humanismo existencialista de Jean-Paul Sartre, o romance mais esperado de 2024 acaba de chegar à Netflix

Os dramas românticos talvez não sejam mais capazes de sustentar uma história pela força do argumento que reza que o amor supera qualquer dificuldade, ultrapassa todos os obstáculos e supre carências afetivas de outras ordens são escassos e quase sempre ambientam-se em distantes tempos idos, justamente porque o amor, é uma lástima, mudou demais. Como todos os sentimentos de que o homem desfruta e contra os quais flagra-se numa guerra encarniçada, tentando se libertar e cada vez mais enredando-se em seus fios, igual à mosca na teia da aranha, o amor tem predicados e defeitos de que se gosta ou se desgosta em maior ou menor proporção, despertando assim reações as mais imprevisíveis a depender de quem atinja. 

“Amores Solitários” confirma a tendência de se falar sobre relações não convencionais, especialmente aquelas que envolvem pessoas de idades distintas — e num recorte ainda mais profundo, as mantidas por uma mulher mais experiente e um homem mais novo. Susannah Grant consegue mostrar com poucas concessões ao óbvio e ao fácil os tantos conflitos que surgem da proximidade entre uma escritora de 57 anos e um administrador de 33, cada qual atravessando suas crises existenciais e revendo a própria jornada, feita de êxitos e fracassos como a de todo mundo.

O destino nos prepara surpresas, e muitas dessas surpresas se traduzem por fracassos retumbantes, que por seu turno escondem grandes oportunidades quanto a descobrir novos caminhos para se alcançar resultados com que se sonha há muito — desde que não se tenha medo de briga. Todos nos deparamos com obstáculos aparentemente invencíveis ao longo da vida, mas escalar essas muralhas não é para qualquer um. Até que se conclua que possíveis sacrifícios valem a pena, padecemos dos males que só nós mesmos conseguimos sentir, anunciados por aqueles instantes tão singulares de dúvida, de angústia, de solidão em que cada homem sobre a face do planeta torna-se mais senhor de si, mais conhecedor de seu espírito e da força infinita que nele existe. Conservar a própria a essência ao passo que se busca as condições necessárias para a mudança desejável é um dos grandes mistérios do viver, e por essa razão mesma, atingir essa meta é muitas vezes o maior feito de um homem. 

Katherine Loewe vai a um retiro de escritores em Marraquexe, no oeste do Marrocos, onde pretende terminar seu novo livro. Seu bloqueio criativo é apenas um sintoma de sua desordem mais íntima depois do fim de um casamento de doze anos com um homem que livrou-se dela porque chegara à conclusão que a ex-mulher não sabia amar. Owen Brophy está na mesma, com a diferença de que não consegue botar um ponto final no namoro com Lily, uma jovem colega de ofício de Katherine, que o arrasta para o encontro e para uma sucessão de dúvidas que passam fazer parte de sua rotina. A diretora-roteirista elabora esse pequeno núcleo mexendo cada peça de modo a garantir que cada um tenha a oportunidade de mostrar seus anseios e suas frustrações. Laura Dern e Liam Hemsworth surpreendem para muito além da química improvável, e numa cena específica, Silvers deixa claro que este não é um filme de amor e desamores qualquer.


Filme: Amores Solitários 
Direção: Susannah Grant
Ano: 2024
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10