Sydney Pollack, diretor aclamado por seu enfoque único no amor e suas nuances, deixou sua marca em “Destinos Cruzados”. Nos 42 filmes que dirigiu, Pollack sempre soube como explorar o amor em suas formas mais complexas, absurdas e, muitas vezes, contraditórias. Ele mergulhou nos aspectos humanos que tornam esse sentimento uma força tanto salvadora quanto destrutiva. O filme reflete bem essa abordagem, equilibrando o nonsense com um toque de ingenuidade, oferecendo uma síntese clara da visão do diretor sobre o amor e o destino.
“Destinos Cruzados” começa em um clima sombrio, remetendo ao estilo noir clássico. As primeiras cenas revelam personagens envoltos em mistério, exatamente como no romance de Warren Adler que serve de base para o roteiro. Embora a adaptação, feita por Darryl Ponicsan e Kurt Luedtke, tenha atualizado certos aspectos para refletir o contexto de 15 anos após a publicação do livro, a essência da história permanece intacta. O uso de aparelhos eletrônicos e elementos modernos não compromete o charme da trama. O toque vintage é reforçado pela trilha sonora de Dave Grusin, com solos de saxofone que aumentam a tensão crescente entre os protagonistas.
A narrativa principal segue Bill van den Broeck, um policial meticuloso que, de forma quase inevitável, se vê envolvido em um redemoinho emocional após uma tragédia pessoal. Enquanto ele tenta manter seu casamento com Peyton (Susanna Thompson), é óbvio que a relação já está marcada pelo fracasso. Pollack, de maneira sutil, introduz a outra personagem central da trama, Kay Chandler, interpretada por Kristin Scott Thomas, cuja vida também está à beira do colapso. O destino, como sugere o título, entrelaça suas trajetórias de maneira inesperada e devastadora.
Harrison Ford, no papel de Bill, entrega uma performance sólida, embora um pouco exagerada em alguns momentos, com ecos da postura impassível de outros papéis durões. No entanto, é nos detalhes menores que o filme encontra sua força, como a subtrama política que envolve Kay, uma congressista republicana lidando com um escândalo pessoal durante uma campanha. Essa linha narrativa, apesar de simples, consegue manter a tensão sem se tornar caricata, sustentando as revelações que vão se desdobrando ao longo da trama.
Pollack, em uma participação afetiva, também aparece no filme como o conselheiro de Kay, oferecendo uma performance discreta, mas significativa, que acrescenta uma camada emocional extra à história. É nesse tipo de detalhe que “Destinos Cruzados” se destaca, não apenas como um drama sobre infidelidade, mas como uma reflexão profunda sobre como o acaso e o amor moldam as vidas das pessoas.
Filme: Destinos Cruzados
Direção: Sydney Pollack
Ano: 1999
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10