Baseado em uma história real que chocou o mundo, série da Netflix é uma das mais assistidas de 2024, até agora Miles Crist / Netflix

Baseado em uma história real que chocou o mundo, série da Netflix é uma das mais assistidas de 2024, até agora

Se Joseph Lyle e Erik Galen tivessem podido assistir a “Monstros — Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais” no Centro Correcional Richard J. Donovan nos arredores de San Diego, Califórnia, iriam sentir o sangue ferver de raiva, mas também experimentariam um grande conforto. Poucas vezes em Hollywood criminosos da vida real foram perfilados em suas as minúcias mais cinzentas, mais nebulosas, o que sempre fomenta mais dúvidas que certezas. Como em “American Crime Story” (2016-2018), “História de Horror Americana” (2011-2023) e “Halston” (2021), Ryan Murphy, bem ao seu estilo, enfronha-se sem censura de qualquer natureza num dos casos mais abjetos da longa história criminal dos Estados Unidos, abusando de cenas com sexo e violência explícita, a fim de tentar entender o que teria levado dois jovens bonitos, milionários e cultos a despedaçar os pais a tiros de espingarda calibre 12 na sala de televisão da família num palacete de Beverly Hills, refúgio de celebridades e megaempresários nos arredores de Los Angeles. Em dez episódios, Murphy e Ian Brennan mostram que as contradições de um caso tétrico, que abre-se para outras hediondezes.

“Irmãos Menendez” não demora a chegar ao seu ápice, com a chocante sequência em que Lyle e Erik disparam contra os pais, José e Kitty, e assim mesmo não se perde nada do vigor dramático do enredo, graças à notória competência de Murphy quanto a dispor dos vários elementos que compõem uma história como essa. Pouco antes, Kitty havia arrancado a peruca que o filho mais velho usava para disfarçar a calvície precoce, ao cabo da briga dos dois sobre o possível casamento de Lyle, aos vinte anos. Erik assiste àquele espetáculo dantesco sem conseguir esboçar reação, e a partir desse ponto, Murphy e Brennan elaboram as circunstâncias em que se vai dar o crime, quase num impulso, mas ainda assim seguindo algum método.

Dando sinais de um arrependimento tardio, mas sincero, Erik procura Dominick Dunne, o psicanalista que já frequentava desde a adolescência, e surpreendentemente o momento em que o garoto confessa ter urdido o assassinato dos pais, consumado com o irmão, é um dos mais perturbadores. Muito do que se segue gira em torno dos lances em que os personagens de Nicholas Alexander Chavez, Cooper Koch e Nathan Lane aparecem juntos, entre os capítulos 1 e 3, com espaço para os flashbacks em que os irmãos Menendez aparecem torrando o dinheiro dos recém-falecidos José, um produtor de cinema diletante, “mais prestigioso que Scorsese”, e Kitty em lautos jantares, Rolexes e Porsches — sem mencionar as orgias, um tópico que abre as discussões sobre um relacionamento incestuoso entre eles. 

Em aparições bissextas, Javier Bardem e Chloë Sevigny, nessa ordem, emprestam uma tensão adicional à trama, que no décimo episódio lembra o julgamento de Orenthal James Simpson (1947-2024), acusado pela morte da ex-esposa e de um suposto namorado dela, atestando o fascínio do público leigo por crimes e celebridades com o caso. Joseph Lyle Menendez e Erik Galen Menendez permanecem no Richard J. Donovan, separados por um pavilhão.


Série: Monstros — Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais 
Criação: Ryan Murphy e Ian Brennan
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Crime
Nota: 9/10