Thriller dramático com atuação genial de Viola Davis, que venceu 2 Oscars e foi indicado a 192 prêmios, está na Netflix David Lee / Netflix

Thriller dramático com atuação genial de Viola Davis, que venceu 2 Oscars e foi indicado a 192 prêmios, está na Netflix

Lançado em dezembro de 2020 na Netflix e dirigido por George C. Wolfe, “A Voz Suprema do Blues” se destacou na temporada de premiações, conquistando dois Oscars — Melhor Maquiagem e Penteado, além de Melhor Figurino. O filme também recebeu indicações em outras categorias, incluindo as nomeações póstumas de Chadwick Boseman e a impressionante atuação de Viola Davis.

No papel central de Ma Rainey, Davis encarna a lendária cantora de blues que, nos anos 1920, conquistou fama como uma das pioneiras no cenário musical dos Estados Unidos. Sua interpretação transmite a força e a presença dominadora da artista, ressaltando as complexidades de uma mulher que soube superar barreiras impostas por uma sociedade patriarcal e racista.

Por outro lado, Chadwick Boseman, em sua última e marcante atuação antes de falecer em agosto de 2020, vive Levee, um jovem trompetista cheio de ambições. Enquanto Ma Rainey já consolidou sua trajetória, Levee luta para gravar suas composições inovadoras, carregadas de um ritmo mais acelerado e dançante. A dinâmica entre os dois artistas é um dos pilares dramáticos da obra, já que Levee, contratado para tocar no novo álbum de Ma Rainey, busca introduzir uma sonoridade moderna ao estilo da cantora, provocando um inevitável conflito de gerações e visões artísticas.

A trama se desenvolve em um único dia dentro de um estúdio em Chicago, retratando as tensões não apenas entre os personagens, mas também com os produtores que vislumbram em Levee uma oportunidade de modernizar o blues de Rainey. Contudo, a cantora, consciente de sua posição e do racismo estrutural que permeia a indústria musical, recusa-se a ceder aos moldes comerciais impostos, reafirmando seu controle absoluto sobre sua carreira e arte.

Baseado na peça homônima de August Wilson, também autor de “Um Limite Entre Nós” — outra obra adaptada para o cinema que contou com Viola Davis e Denzel Washington — “A Voz Suprema do Blues” mantém a intensidade das criações de Wilson. A profundidade emocional e as discussões sobre raça, poder e resistência presentes na obra teatral foram habilmente transportadas para as telas, fazendo deste filme uma experiência carregada de tensão e simbolismo.

O cenário do filme é deliberadamente minimalista, ancorado em um prédio de tijolos na cidade de Chicago. A fotografia, inspirada no teatro, recorre a uma iluminação focada, destacando os personagens em suas falas e posicionando a câmera de forma a evidenciar quem detém o poder em cada cena, seja por meio de closes que capturam as emoções, seja através de ângulos contra-plongée que sublinham a hierarquia dos diálogos.

Um elemento técnico que merece destaque é o uso expressivo da maquiagem, que realça o suor e o brilho na pele dos personagens, especialmente nos momentos de maior tensão emocional. Esse detalhe não apenas reforça a ambientação sufocante de um verão em Chicago, mas também serve como uma metáfora visual para a luta constante e o fardo imposto aos personagens negros, cujas expressões são marcadas pela fadiga e pela resistência.

Embora a narrativa seja linear e o roteiro direto, o coração do filme reside nos diálogos afiados e profundos. As interações verbais são carregadas de significados, e cada frase funciona como um golpe preciso que revela camadas de frustração, ambição e dor. As atuações, especialmente de Davis e Boseman, elevam a experiência, oferecendo uma entrega emocional rara e genuína que ecoa ao longo da história.

Viola Davis, no papel de Ma Rainey, é uma presença imponente. Mesmo com maquiagem escorrida e o rosto suado, ela emana uma postura que reflete poder e vulnerabilidade ao mesmo tempo. Essa dualidade constrói uma personagem complexa, uma mulher que, apesar de enfrentar inúmeras adversidades, nunca perde o controle sobre seu destino, reafirmando sua importância em um mundo controlado por homens brancos.


Filme: A Voz Suprema do Blues
Direção: George C. Wolfe
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.