Épico com Daniel Day-Lewis que ganhou o Oscar e se tornou um dos maiores romances do cinema no século 20 Divulgação / Twentieth Century Fox

Épico com Daniel Day-Lewis que ganhou o Oscar e se tornou um dos maiores romances do cinema no século 20

Michael Mann é um dos nomes mais respeitados em Hollywood, tendo construído uma carreira marcada por filmes que vão de “Profissão: Ladrão” a “Colateral”, passando por clássicos como “Fogo Contra Fogo” e “O Aviador”. Sua reputação na indústria lhe concedeu carta branca ao apresentar a proposta de dirigir “O Último dos Moicanos” à Twentieth Century Fox. Com um orçamento de 40 milhões de dólares, o projeto rapidamente ganhou vida, impulsionado pela obsessão de Mann pela perfeição. Seu método exigente, incluindo inúmeras refilmagens para cada cena, elevou os custos, mas garantiu um resultado visual e narrativo impactante.

Daniel Day-Lewis, uma das figuras mais reverenciadas no cinema, foi escolhido para o papel de Hawkeye, um homem branco criado pelos moicanos desde a infância. Como sempre, o ator mergulhou profundamente na preparação, vivendo no deserto por meses, caçando e pescando para compreender a essência de seu personagem. Além disso, ele se submeteu a um rigoroso treinamento militar, afinando suas habilidades de combate e tiro, aspectos cruciais para a verossimilhança do papel.

A ambientação do filme é um aspecto crucial, retratando o leste dos Estados Unidos durante o século 18, mais especificamente Nova York e a região dos Grandes Lagos. Essa época foi marcada pela intensa exploração de madeira nas margens do rio Hudson e nas florestas de Adirondacks. Para capturar com precisão essas paisagens, Mann escolheu a Carolina do Norte como locação, recriando a beleza e a brutalidade do ambiente de forma impecável.

Adaptado do romance homônimo de James Fenimore Cooper, escrito em 1826, “O Último dos Moicanos” segue Hawkeye em meio aos conflitos territoriais entre britânicos e franceses, além das tensões crescentes entre colonos e nativos americanos. O ponto de partida da trama ocorre quando o protagonista cruza o caminho de Cora (Madeleine Stowe) e Alice (Jhodi May), filhas do coronel Munro (Maurice Roëves), durante um ataque às suas carruagens. Esse encontro inesperado os coloca no epicentro dos violentos confrontos entre as nações e tribos da época.

A base da adaptação cinematográfica é a versão de 1936, dirigida por Philip Dunne, cujos direitos Mann adquiriu para o remake. Ele reconheceu a força do texto de Dunne e trabalhou para preservar sua essência, eliminando os elementos que considerava fantasiosos do livro original de Cooper. Essa abordagem permitiu que Mann mantivesse o foco em uma narrativa mais realista e centrada nos aspectos históricos e emocionais.

A visão de Mann sobre o período retratado é de fascínio pelas tensões culturais e territoriais. Embora ele insista que o filme não possui uma agenda política, é inegável que a história aborda questões complexas sobre identidade e amor em tempos de guerra. A relação improvável entre Hawkeye e Cora surge como um ponto central da narrativa, desenrolando-se de forma gradual, mas profundamente emocional, à medida que ambos enfrentam os desafios impostos por suas diferentes origens.

A intensidade da atuação de Day-Lewis é palpável, trazendo ao personagem uma profundidade singular. Ele se transforma em Hawkeye com uma precisão que vai além da simples interpretação, vivendo de forma plena as nuances de um homem dividido entre dois mundos. A química entre ele e Stowe é outro ponto forte, adicionando camadas de complexidade à relação de seus personagens, que se desenrola em meio à violência e incertezas da guerra.

A utilização das paisagens naturais da Carolina do Norte por Mann é mais do que um pano de fundo visual; é parte integrante da narrativa. A grandiosidade e a selvageria do cenário reforçam os temas centrais do filme, ampliando a experiência sensorial do espectador. Cada tomada parece intencionalmente desenhada para imergir o público na época, trazendo realismo e visceralidade à história.

“O Último dos Moicanos” vai além de ser uma simples adaptação de um clássico literário. Ele se torna uma exploração profunda de temas universais, como identidade, pertencimento, amor e sobrevivência em tempos adversos. A combinação da visão de Mann com a entrega de Day-Lewis cria uma experiência cinematográfica poderosa, capaz de tocar o público em níveis emocionais e intelectuais.

Em última análise, o filme, disponível na Netflix, é um tributo à habilidade de Mann de criar narrativas complexas e impactantes, solidificando ainda mais seu lugar entre os grandes diretores de Hollywood. Sua atenção aos detalhes, tanto históricos quanto emocionais, garante que “O Último dos Moicanos” permaneça como uma obra-prima atemporal, ressoando com audiências de todas as épocas.


Filme: O Último dos Moicanos
Direção: Michael Mann
Ano: 1992
Gênero: Drama
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.