O melhor suspense erótico dos últimos 12 meses está na Netflix — e você nem percebeu Divulgação / Netflix

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Um vídeo recente tem circulado amplamente nas redes sociais, mostrando um trecho do programa “Profissão Repórter”, da TV Globo. Nele, o jornalista questiona um casal em meio a um evento de serviços públicos. A mulher, ao ser perguntada, revela que o marido, irritado pelo fato de ela ter esquecido de lavar seu uniforme, exigiu que ela realizasse a tarefa no meio da madrugada. Em resposta, o marido, cuja imagem foi distorcida para preservar sua identidade, diz não ver problema na situação e afirma que, se esse era o modo como a esposa enxergava o ocorrido, o relacionamento estava, de fato, destinado ao fracasso.

Historicamente, as mulheres têm sido relegadas à condição de subalternas em suas relações com esposos e pais, geralmente sem qualquer tipo de compensação financeira. A cena do vídeo não foge a essa realidade, sendo um reflexo da naturalização desse tipo de tratamento. Nas redes sociais, muitos homens expressaram apoio ao comportamento do marido, o que evidencia a persistência de mentalidades arcaicas que ainda vigoram.

No mesmo contexto de poder e controle, o filme “Jogo Justo” foi uma das grandes surpresas no Festival de Sundance, provocando reações intensas no público. A trama se passa em Nova York e acompanha um casal de jovens profissionais do mercado financeiro. Emily, interpretada por Phoebe Dynevor, e Luke, vivido por Alden Ehrenreich, estão no auge de seu relacionamento e compartilham a ambição de ascender em suas carreiras. No entanto, a dinâmica entre eles muda drasticamente quando Emily é promovida a gerente, tornando-se a superior direta de Luke no ambiente de trabalho.

A promoção de Emily não é motivo de comemoração para o casal. Se, por um lado, ela agora desfruta de benefícios como altos bônus e carros com motorista, por outro, enfrenta desafios constantes. A cada pequeno erro, Emily é julgada e criticada por seus colegas, e qualquer sinal de fraqueza pode comprometer sua credibilidade. As mulheres em posições de destaque, como Emily, frequentemente se veem obrigadas a provar seu valor repetidamente, sob o escrutínio de um ambiente muitas vezes hostil.

Para Luke, a ascensão de Emily não é vista como um triunfo conjunto, mas como uma traição pessoal. Ele passa a sentir que sua noiva lhe roubou a oportunidade dos sonhos, o que abala profundamente sua autoestima e masculinidade. Ao invés de apoiá-la, Luke se afasta emocionalmente e fisicamente, alimentando ressentimento e raiva. Seus diálogos com Emily se tornam repletos de acusações e insinuações, inclusive sugerindo que ela tenha se envolvido com seu chefe para conseguir a promoção.

A deterioração do relacionamento é evidente. Luke evita contar a seus pais sobre o noivado, foge dos momentos de intimidade com Emily e adota uma postura defensiva sempre que interagem. Enquanto Emily tenta equilibrar sua vida pessoal e profissional, buscando reacender a paixão entre eles, Luke afunda cada vez mais em sua própria insegurança, transformando o lar em um campo minado de tensão.

Conforme a narrativa avança, o filme intensifica a atmosfera de paranoia, culminando em uma série de cenas de violência física e psicológica que revelam a fragilidade masculina diante de mulheres em posições de poder. A diretora e roteirista Chloe Domont constrói uma crítica incisiva à estrutura de gênero em que muitos homens ainda se encontram presos, incapazes de lidar com uma realidade onde não detêm mais o controle absoluto.

“Jogo Justo” é um thriller psicológico que explora com maestria as dinâmicas tóxicas de poder nos relacionamentos. A narrativa tensa e envolvente faz do filme uma experiência instigante, que levanta discussões pertinentes sobre gênero, ambição e a fragilidade das relações modernas.


Filme: Jogo Justo
Direção: Chloe Domont
Ano: 2023
Gênero: Suspense/Drama/Mistério
Nota: 8/10