“A Máscara do Zorro” é um resgate raro do senso de honra nos filmes de ação modernos. Nesta obra, o protagonista não apenas luta entre o bem e o mal, mas carrega dívidas de sangue que atravessam gerações. A história é narrada com uma mistura vibrante de energia, humor e duelos de espada, criando um espetáculo divertido que, ao mesmo tempo, respeita a inteligência do público.
Antonio Banderas, na pele do icônico Zorro, traz uma presença magnética que torna impossível não se envolver com sua atuação. Seu charme inigualável, especialmente em sua compreensão das nuances femininas, coloca-o em um patamar distinto. No entanto, o filme vai além de sua performance. “A Máscara do Zorro”, lançado em 1998, trouxe de volta às telas uma combinação de aventura e humor que há muito havia desaparecido. Dirigido por Martin Campbell, o filme casa a ação moderna com a essência clássica das histórias de heróis, sem se render aos excessos do CGI, tão comuns na época.
O enredo se desenrola em uma Califórnia e México do século 19, sob a tirania do cruel Don Rafael Montero (Stuart Wilson), que governa com brutalidade, ordenando execuções sumárias e roubando a liberdade de seu povo. A trama é profundamente pessoal: Zorro, interpretado inicialmente por Anthony Hopkins, vê sua vida destruída quando Montero invade sua casa, mata sua esposa e sequestra sua filha recém-nascida, criando-a como sua própria. Vinte anos depois, o Zorro envelhecido retorna, encontrando um aliado improvável em Alejandro, um bandido de rua interpretado por Banderas. Juntos, eles formam uma dupla que combina experiência e ímpeto juvenil, estabelecendo uma jornada de redenção e vingança.
O treinamento de Alejandro, conduzido por Don Diego (Hopkins), é um dos pontos altos do filme. As cenas são cômicas e cheias de ação, com toques de humor afiado que suavizam a seriedade da missão. O jovem é ensinado a manusear a espada, montar a cavalo e enfrentar adversários em combates corpo a corpo, mas a lição final é uma das mais importantes: charme. Esta é a habilidade que Alejandro precisará para se infiltrar na alta sociedade e frustrar os planos de Montero, que envolvem uma conspiração ambiciosa para comprar a Califórnia do General Santa Ana.
As cenas de ação, coreografadas com maestria, são puro deleite. Cada duelo de espada, cada movimento ágil de Zorro, é executado contra cenários de tirar o fôlego, com fazendas, minas de ouro e paisagens de faroeste compondo o pano de fundo perfeito. Essas sequências destacam-se pela ausência de efeitos especiais exagerados, trazendo à tona um entretenimento puro, repleto de vilões diabólicos e heróis espirituosos. A ação está intrinsecamente ligada à história, mantendo o público investido no desenrolar dos eventos.
O coração do filme, no entanto, pulsa mais forte nas interações entre Banderas e Catherine Zeta-Jones, que interpreta Elena, a filha perdida de Zorro. As cenas entre os dois são eletrizantes, cheias de química e tensão, com destaque para um sedutor pas de deux em uma festa na casa de Don Rafael e um momento cômico em que Alejandro se esconde em um confessionário para ouvir as confissões de Elena sobre seu desejo por um misterioso homem mascarado. A conexão entre os personagens é construída com uma sensibilidade que vai além dos clichês do gênero, tornando cada momento compartilhado entre eles essencial para a narrativa.
Além do romance e da ação, “A Máscara do Zorro” celebra as paisagens clássicas dos faroestes, com cavalos galopando por terras áridas, fazendas grandiosas e uma espetacular exibição de habilidades de equitação. A trama melodramática que envolve o amor do Zorro original por sua filha roubada é elevada pela atuação de Hopkins, que traz uma dignidade intensa ao papel. Zeta-Jones, por sua vez, equilibra perfeitamente a inocência e a determinação de Elena, dando ao público uma heroína que é tanto forte quanto emocionalmente complexa.
O roteiro, cuidadoso e bem estruturado, respeita seus personagens e a lógica interna da história, criando um equilíbrio raro entre ação e desenvolvimento emocional. “A Máscara do Zorro” relembra uma época em que os efeitos especiais e acrobacias serviam à narrativa, em vez de dominá-la. Ao colocar os personagens secundários no centro da ação e escalá-los com atores talentosos, o filme consegue ser profundamente envolvente e, ao mesmo tempo, um espetáculo de entretenimento.
Com uma trama envolvente, personagens memoráveis e uma execução técnica impecável, “A Máscara do Zorro” se destaca como um exemplo de artesanato cinematográfico tradicional que permanece relevante e divertido. É um filme que surpreende pela sua capacidade de entreter e tocar, sendo, sem dúvida, uma experiência digna de ser lembrada e celebrada. Um verdadeiro clássico que soube unir o melhor do passado com o frescor do cinema contemporâneo.
Filme: A Máscara do Zorro
Direção: Martin Campbell
Ano: 1998
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 9/10