Paródia dos filmes de ação, terror e fantasia dos anos 1970 e 1980, “O Predador” bate na tecla da vulnerabilidade da Terra diante de alienígenas coléricos, prontos para uma vingança planejada pelos milênios sabe Deus por quê. Aqui, Shane Black traz todos os cacoetes que ainda fazem a cabeça de quem viveu aquela época e pôde acompanhar os desdobramentos, os mais afortunados pela televisão de casa, de uma malsucedida incursão de terráqueos numa certa paragem da via Láctea. Esses telespectadores, incluindo-se aí os americanos tranquilos a 13.789 quilômetros das batalhas durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), não tinham uma ideia muito clara da razão dos enfrentamentos bélicos no Sudeste Asiático, porém tinham certeza quanto à possibilidade e mesmo à urgência de se conquistar outros mundos, se possível com a ajuda dos ETs insatisfeitos de lá. Decerto é essa a magia que teima em resistir depois de mais de meio século, muito bem-capturada pelo roteiro preciso de Black, Fred Dekker e Jim Thomas.
Esse misterioso paradoxo, pleno das reviravoltas todas que garantem o sobe-e-desce que atira-nos à luta pela sobrevivência, leva ao momento em que é imprescindível assumir uma postura mais agressiva diante dos outros, um dos tantos personagens que incorporamos em nosso teatro existencial — sobretudo diante dos outros que não conhecemos. Ajudado pelas várias dificuldades que agigantam-se ainda mais no palco tétrico que a vida dispõe para um, onde se chega para matar ou para morrer, aflora em nós o monstro que se assenhora da ribalta e se exibe a nossa revelia, malgrado só queira nos proteger da hediondez do mundo e da nossa própria vileza, nascida da mágoa, do remorso sufocado pelo orgulho, da negligência, do abandono.
A história começa quando um jovem garoto acidentalmente desencadeia o retorno dos Predadores à Terra. Um grupo de ex-soldados e um cientista se une para enfrentar a ameaça, gancho perfeito para que o diretor explore a vinda dos tais Predadores, mais letíferos depois que amalgamaram seu DNA ao de outras espécies. As cenas de ação visceralmente críveis, temperadas com o humor de que Black tão bem se vale, faz com que “O Predador” oscile na ambiguidade do elenco muito acima da média liderado por Boyd Holbrook na pele de Quinn McKenna, diminuído pelos erros de continuidade e o tom involuntariamente farsesco da trama. Todo mundo erra.
Filme: O Predador
Direção: Shane Black
Ano: 2018
Gêneros: Ação/Ficção científica
Nota: 7/10