Prepare-se para 100 minutos de risadas: a comédia mais engraçada do cinema brasileiro acaba de chegar à Netflix Divulgação / Paris Filmes

Prepare-se para 100 minutos de risadas: a comédia mais engraçada do cinema brasileiro acaba de chegar à Netflix

Se de quando em quando até Hollywood acusa o golpe e balança diante das más decisões de Washington ou treme junto com os solavancos financeiros de Nova York, o que dizer de um cinema em Pacatuba, no sertão do Ceará da década de 1980? Halder Gomes não precisou de muita criatividade para compor “Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral”, o desdobramento de uma saga que conhece bem. Nascido em Fortaleza há 57 anos, Gomes experimentou na carne o descaso com a cultura por parte de sucessivos governos até, finalmente, captar patrocínio para contar as desventuras de Francisgleydisson, o dono do cinema do título. Seis anos depois do primeiro longa, o diretor continua a denunciar, com muito humor, os cambalachos, as artimanhas e expedientes os mais questionáveis de que vale-se seu espirituoso anti-herói para não sucumbir de vez a um inimigo particularmente cruel para um, vá lá, empresário no seu ramo.

A televisão já reinava absoluta na indústria cultural brasileira desde 1950, mas trinta anos mais tarde parcelas mais amplas e populares do mercado consumidor puderam, finalmente, em prestações a perder de vista, adquirir seu aparelho de TV de tubo. O paraíso de muitos é o calvário de Francisgleydisson, e sua bancarrota é de tal forma avassaladora que ele se vê obrigado a desligar o velho projetor, juntar seus trapinhos e ir morar na casa da sogra com a mulher, Maria das Graças, e Francin, o filho do casal. Edmilson

Filho, Miriam Freeland e Ariclenes Barroso deitam e rolam nas piadas do texto de Gomes, L.G. Bayão e do próprio comediante, amalgamando deboche, sarcasmo e melancolia na dose exata. Como Deus nunca fecha uma porta sem antes deixar uma janela encostada, enquanto pensa na pilha de carnês, Francisgleydisson flagra a abdução de um amigo por extraterrestres e ocorre-lhe o roteiro de uma ficção científica, com Lampião e seus capangas como protagonistas de uma guerra contra os aliens em pleno Nordeste.

Como no antecessor, “A Chibata Sideral” reserva polpudos segmentos a uma crítica social direta, mas sofisticada, acerca das lacunas entre as manifestações culturais e o modo de operação da política no Brasil, sem se esquecer do casamento espúrio de Igreja e Estado. O aporte financeiro de Olegário Ambrósio, o alcaide de Pacatuba vivido por Roberto Bomtempo, de olho na eleição da primeira-dama Justina, de Samantha Schmutz, torna possível esse outro sonho do delirante Francisgleydisson, sem que o restante do povo saiba precisamente o custo dessas transações. O zelo por minúcias como a fonética, sublinhadas as gírias e os vícios de linguagem encontrados onde se passa a história, o divertidíssimo cearensês, atesta que estamos está diante de um organismo vivo, pulsante, que não depende de nada nem de ninguém para continuar existindo. É difícil cravar que Pacatuba será uma nova Los Angeles algum dia, mas Francisgleydisson e Halder Gomes fazem sua parte.


Filme: Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral
Direção: Halder Gomes
Ano: 2018
Gêneros: Comédia
Nota: 9/10