Esqueça o mundo e ria como nunca: Chris Pine e Michelle Rodriguez brilham na comédia de fantasia mais divertida da Netflix! Divulgação / Paramount Pictures

Esqueça o mundo e ria como nunca: Chris Pine e Michelle Rodriguez brilham na comédia de fantasia mais divertida da Netflix!

Sempre resiste um preconceito algo tolerável contra filmes baseados em jogos. Verificar até que ponto gente que nunca teve a menor curiosidade no que toca a brincadeiras de cartas, dados e mesmo fantasias com direito a chapéus, luvas, espadas de plástico e frascos de poções cenográficas podem envolver-se de verdade diante de produções como “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” é um risco, calculado, que os diretores Jonathan M. Goldstein e John Francis Daley decidem correr, muito bem-amparados por um sem-fim de cenas pródigas em efeitos especiais. A verdade é que quanto mais despretensioso mais chances um enredo como esse tem de ser acolhido por todos, a despeito de um claro artificialismo ambivalente, que ajuda e prejudica. Os diretores e o corroteirista Michael Gilio captam a aura épica que os adeptos do jogo de interpretação de papéis de alta fantasia (RPG) criado por Gary Gygax (1938-2008) e Dave Arneson (1947-2009) tanto prezam, remoldando essa estrutura para a nova linguagem almejada.

Edgin Darvis, ex-membro dos Harpistas, está fazendo crochê no sofá quando a bárbara Holga Kilgore, sua melhor amiga, racha lenha no quintal. Goldstein e Daley dão fim à confusão (e criam mais algumas) esclarecendo que eles nunca foram um casal, apenas criam juntos Kira, a filha de Edgin, depois que a mãe da garota fora assassinada pelos Magos Vermelhos. Alguns anos mais tarde, os três passam a ganhar a vida como bandoleiros, unindo o agradável ao roubar os estabelecimentos da vizinhança à cata de um amuleto com poderes para trazê-la de volta, porém todo o esforço é em vão, uma vez que Forge Fitzwilliam, um ex-aliado de Edgin e Holga, aproximou-se deles para denunciá-los às autoridades, dispondo da colaboração servil de Sofina, uma maga vermelha das mais sanguinárias. Essa natureza assumidamente caótica de “Honra Entre Rebeldes” perdura até o desfecho, em especial quando Edgin conhece Simon, o mago cheio de complexos de Justice Smith, e Chris Pine, versátil como sempre, confere a seu personagem as cores de um anti-herói que aos poucos perde a armadura e deixa à vista as vulnerabilidades esboçadas no início. Pine equilibra-se entre a brutalidade viril de um guerreiro de algum lugar muito distante e de um tempo indeterminado e a doçura de um pai que encara monstros cuspidores de fogo pelo rebento, com Chloe Coleman à altura da boa performance do colega. Mesmo um papel caricato, Michelle Rodriguez dribla armadilhas e dá um jeito de evitar a facilidade de mostrar só a face belicosa de Holga. Quanto a Fitzwilliam, Hugh Grant fica bem melhor nas comédias românticas mesmo. 


Filme: Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
Direção: Jonathan M. Goldstein e John Francis Daley
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 7/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.