Estreia explosiva: filme de ação do novo cinema sueco chega à Netflix e já domina o ranking global de mais assistidos

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Não se pode afirmar com certeza se Ingmar Bergman aprovaria “Prisioneiro do Caos”, mas o filme dirigido por Jon Holmberg definitivamente representa um marco no novo cinema sueco, especialmente por suas ambições nada tímidas. A trama, concebida por Holmberg e Tapio Leopold, gira em torno de um homem comum que se vê abruptamente imerso em uma série de eventos criminosos que destoam completamente de sua rotina monótona. Embora essa sequência de desventuras possa não ser comum a qualquer um, o enredo bem-humorado que aborda a corrupção dentro das forças policiais, até mesmo nas sociedades mais desenvolvidas, provoca uma reflexão incômoda sobre o que fazemos com as cartas que o destino, sempre imprevisível e implacável, nos entrega.

Conforme avançamos na vida, a sensação de que a existência é uma série interminável de desafios apenas se intensifica. Cada nova fase superada dá lugar a outra, e mais outra, em uma sucessão aparentemente interminável de provações. Essas situações, que frequentemente testam nossa capacidade de resistência, acabam por se tornar a essência do que é mais autêntico em nós: a habilidade de suportar a incerteza que permeia todas as coisas. Essa incerteza desfaz os planos mais simples que ousamos traçar, destrói de maneira implacável o que consideramos valioso e impõe sua presença avassaladora, obscurecendo qualquer vestígio de clareza que tentamos alcançar.

A narrativa do filme começa com Conrad Rundqvist, um simples vendedor de eletrodomésticos, que aceita um trabalho extra instalando uma televisão na casa de Miriam Stanković, esposa de um mafioso de origem do Leste Europeu. Enquanto Miriam sai e deixa Conrad sozinho, o marido dela é brutalmente assassinado. Totalmente alheio ao perigo ao redor, Conrad, distraído com fones de ouvido que bloqueiam qualquer som externo, não percebe a presença dos assassinos. Antes desse fatídico evento, ainda em seu trabalho, Conrad atende Diana, uma policial honesta e inflexível, o que prenuncia a conexão entre os dois personagens, que se desenrola após o massacre na casa de Miriam. Diana personifica o que há de melhor na defesa da lei e da ordem, enquanto sua colega, Helena Malm, representa o lado corrompido e venenoso da polícia, tentando contaminar todos à sua volta.

Holmberg equilibra o filme entre cenas de ação rápida e momentos de reflexão mais profundos, destacando o caráter estoico do protagonista. Interpretado por Filip Berg, Conrad é o centro gravitacional da trama, ao redor do qual giram os papéis contrastantes de Eva Melander e Amy Deasismont. Vale notar que o potencial romântico entre Conrad e Diana só se materializa no final, o que sublinha o paralelo entre Conrad e Zenão de Cítio, o filósofo grego que pregava o autocontrole e a virtude como base para uma vida feliz.

A construção narrativa do filme e a atuação de seus protagonistas garantem um ritmo envolvente que prende a atenção do público. O longa não apenas explora o lado sombrio das instituições e da sociedade, mas também oferece uma análise sobre como cada indivíduo reage diante das provações impostas pelo destino. “Prisioneiro do Caos” pode não ter a profundidade filosófica de uma obra de Bergman, mas certamente carrega em si o espírito de reflexão e a crítica social que são marcas distintivas do cinema sueco.


Filme: Prisioneiro do Caos
Direção: Jon Holmberg
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Ação
Nota: 8/10