Baseado em um jogo que vendeu 200 milhões de cópias, filme de ação com Michel  Fassbender vai tirar seu fôlego Divulgação / 20th Century Fox

Baseado em um jogo que vendeu 200 milhões de cópias, filme de ação com Michel Fassbender vai tirar seu fôlego

Pode estar se aproximando o dia em que teremos o privilégio inestimável de contar com órgãos que zelarão integralmente pelo nosso bem-estar, decidindo por nós o que devemos ou não fazer em diversas situações. Assim, caso surjam pensamentos inconvenientes, esse salvador se encarregaria de restaurar a clareza e a serenidade do nosso estado mental antes mesmo de tomarmos consciência da necessidade de tal intervenção. “Assassin’s Creed” explora essas ideias complexas por meio de uma narrativa ambiciosa, superando suas pretensões iniciais. O diretor Justin Kurzel captura a essência da famosa franquia de videogames, na qual o jogador progride ao derrotar inimigos de épocas e mundos distintos, confrontando adversários que representam não apenas os conflitos do passado, mas também as contradições inerentes à existência e a complexidade das escolhas pessoais. Estas escolhas, embora frequentemente nebulosas, são um dos poucos aspectos que deveriam ser inalienáveis para o indivíduo. É significativo que esses personagens, que oscilam entre a figura do justiceiro e a do clérigo de uma seita obscura, sejam designados como Assassinos. Contudo, o roteiro elaborado por Adam Cooper, Bill Collage e Michael Lesslie habilmente contextualiza que a reputação controversa desses guerreiros pode, na verdade, ser uma fonte de admiração.

Por séculos, a Ordem dos Templários busca a famosa Maçã do Éden, um artefato que simboliza a desobediência e o livre-arbítrio. Aquele que controlar tal objeto terá o poder de influenciar os destinos de nações prósperas ao redor do mundo, permitindo-lhe destinar orçamentos trilionários a causas que considere justas, sem prestar contas a ninguém. Isso, evidentemente, possibilita a transformação de civilizações em prisioneiras eternas. Os Assassinos, como a etimologia sugere, são os que desafiam a ordem estabelecida e se opõem aos Templários, um conceito que se torna mais claro no jogo do que no filme. Na Andaluzia do final do século XV, a sociedade liderada por Aguilar, um personagem que pode ser visto como um portador de conhecimento, enfrenta a pressão dos poderosos da época. Os roteiristas propõem uma viagem no tempo, apresentando Cal Lynch, um condenado cuja vida parece ter chegado ao fim — lembrando que o filme foi lançado em 2016 — que aguarda sua execução até que os Templários (e quem mais poderia ser?) o resgatem, um ato que, claramente, não é movido por altruísmo ou preocupação com os direitos humanos. Lynch, interpretado por Michael Fassbender, é o descendente de Aguilar e, através de seu DNA, é possível conectar o presente ao passado, buscando a Maçã que sacia a insaciável sede de conhecimento dos investidores da Abstergo, uma corporação cujo enigmático presidente, Alan Rikkin, interpretado por Jeremy Irons, transforma essa busca em sua razão de existir.

Levar “Assassin’s Creed” a sério é uma tarefa complicada, e Kurzel está ciente disso, tanto que opta por manter a essência cômica do videogame. Visualmente impressionante e repleto de sequências de combate bem coreografadas, o que realmente se destaca neste filme é a imersão no delírio que ele propõe, com a beleza hipnotizante de Marion Cotillard, no papel da doutora Sophia, que é tão psicopata quanto seu pai.


Filme: Assassin’s Creed
Direção: Justin Kurzel
Ano: 2016
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 7/10