Seria válido refazer uma narrativa já apresentada três vezes ao longo do século 20? Bradley Cooper parece ter encontrado uma resposta convincente para essa questão ao modernizar “Nasce uma Estrela” de forma cativante para um novo público. Ele soube como adaptar o enredo à era digital, enquanto conquistava tanto os críticos quanto o público, sem abandonar a essência da trama.
A história de um músico veterano que descobre uma jovem promissora, enquanto ambos se apaixonam, já passou pelas mãos de William A. Wellman (1937), George Cukor (1954) e Frank Pierson (1976). A versão de Cooper, entretanto, confere ao enredo um frescor particular, onde a química entre os protagonistas mantém-se como o elemento central e mais marcante da obra.
O roteiro, escrito por Cooper em parceria com Eric Roth e Will Fetters, mergulha de maneira sensível nos desafios dos protagonistas, que lidam com suas fraquezas pessoais sem perder de vista a delicada beleza do cotidiano. Essa abordagem torna o filme uma reflexão sobre a vida, não apenas um espetáculo visual, equilibrando o drama humano com a estética da produção.
Logo na abertura, Jackson Maine, interpretado por Cooper, afoga suas frustrações em álcool após uma apresentação. Já em declínio no cenário musical, ele cruza o caminho de Ally, uma garçonete talentosa, que outrora sonhou em ser uma estrela. Cooper entrega um personagem cheio de nuances, criando uma atmosfera que permite Lady Gaga brilhar em sua entrada triunfal, com uma performance marcante de “La Vie en Rose”.
A química entre os dois é palpável desde o primeiro olhar. Jackson, encantado com a autenticidade de Ally, a introduz de maneira quase desajeitada em seu mundo. Esse encontro é o início de uma ligação intensa, em que ambos são moldados pelos altos e baixos do sucesso e da autodestruição.
Cooper, que se destaca tanto como ator quanto como diretor, demonstra uma capacidade admirável de se movimentar com naturalidade entre esses papéis. Essa habilidade, já evidente em “Nasce uma Estrela”, ressurge no ambicioso “Maestro” (2023), onde ele explora as complexidades da vida de Leonard Bernstein. É um feito notável de equilíbrio entre direção, atuação e produção.
A cinematografia de Matthew Libatique, uma constante na parceria com Cooper, traz vida à narrativa. Suas escolhas visuais capturam as nuances emocionais da relação entre Jack e Ally, alternando entre luzes vibrantes e tons sombrios. O elenco de apoio, com destaque para Sam Elliott como Bobby, adiciona ainda mais profundidade a essa história sobre paixão e fragilidade. Mais do que um simples drama, “Nasce uma Estrela” é um retrato sincero da música como força transformadora.
Filme: Nasce Uma Estrela
Direção: Bradley Cooper
Ano: 2018
Gêneros: Romance/Musical
Nota: 8/10