Comédia de ação com Dwayne Johnson, na Netflix, é o filme mais assistido do Brasil na atualidade Divulgação / Columbia Pictures

Comédia de ação com Dwayne Johnson, na Netflix, é o filme mais assistido do Brasil na atualidade

Talvez Dwayne “The Rock” Johnson seja na indústria cultural de nossos dias quem melhor transite de um lado para o outro, da comédia para as sequências de ação e delas para arcos dramáticos entre o morno e o quente, fervendo — ajudado, por óbvio, pela aparência sui generis. The Rock começara sem qualquer estardalhaço, quase surdamente, em “O Retorno da Múmia” (2001), de Stephen Sommers, e cerca de dois anos mais tarde, materializava aos poucos as esperanças que o público e parte da crítica punham nele, fazendo justiça a cada oportunidade, livrando-se de estigmas cruéis que grudam-lhe sobre os músculos sempre evidentes ao passo que mantém a aura de herói que encarna à perfeição, sacrificando-se de verdade em cenas que exigem-lhe o condicionamento de que ninguém duvida. É o que se constata em “Bem-Vindo à Selva”, em cuja introdução o diretor Peter Berg dá azo a uma perspicaz blague metalinguística comparando o potencial de seu novo astro ao legado de um veterano para ninguém botar defeito.

Beck, um “especialista em recuperação”, entra numa boate e dá de cara com Arnold Schwarzenegger, saindo, como se estivessem trocando de lugar. Como se sabe, o eterno Exterminador do Futuro tinha ainda bastante lenha para queimar, acumulando mais algumas centenas de milhares de dólares numa das grifes mais duradouras e lucrativas de Hollywood — sorte que, ninguém questionava, também tem sido a de The Rock. Alguns socos e pontapés depois, Beck é despachado para uma missão ultrassecreta na Amazônia, um fetiche, palavra mágica capaz de animar públicos os mais diversos, e o roteiro de R.J. Stewart e James Vanderbilt nos leva por uma jornada de beleza cheia das texturas a que a computação gráfica dá ênfase. Ele chega a El Dorado, um vilarejo perdido na imensidão da floresta, onde um certo Hatcher manda e desmanda, e essa é a hora em que Christopher Walken brilha como um antagonista quase caricato, muito de acordo com o clichezão de imaginar a Amazônia como um éden de onde o ouro brota da terra, mas o amanhã se esvai nas mãos criminosas dos homens.

Na virada do segundo para o terceiro ato, o ator Berg inclui o antirromance de Beck e Mariana, a balconista de bar interpretada por Rosario Dawson, sem se esquecer de Walken, que transforma monólogos à primeira vista enfadonhos em espetáculos à parte. Matreiramente, “Bem-Vindo à Selva” vai muito além do protocolo em tramas dessa natureza, o que pode ser pouco assim mesmo. Não é esse o caso aqui.


Filme: Bem-Vindo à Selva
Direção: Peter Berg
Ano: 2003
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.