Agnieszka Holland construiu uma carreira marcada por filmes que provocam reações profundas no público ao se apropriar de eventos históricos para contar histórias densas, como “Europa, Europa” (1990) e “In Darkness” (2011). Ambos exploram o impacto da Segunda Guerra Mundial sobre os povos sob o controle nazista. Com “A Sombra de Stálin” (2019), Holland reafirma seu compromisso de explorar questões históricas complexas, ao focar na trajetória de Gareth Jones, um jovem jornalista galês determinado a alertar o mundo sobre a ameaça representada por Adolf Hitler, a partir de sua ascensão ao poder como chanceler da Alemanha, em 1933.
Jones, interpretado com intensidade por James Norton, viaja à União Soviética naquele ano com o objetivo de documentar a realidade ucraniana. Em solo soviético, ele se depara com o Holodomor, uma das maiores tragédias do século, uma fome provocada intencionalmente pelas autoridades soviéticas, que vitimou milhões. As denúncias de Jones, publicadas no “The Times”, chamaram a atenção internacional, mas foram amplamente ignoradas pelas elites políticas da época. Holland, que pessoalmente enfrentou o autoritarismo ao ser presa durante a Primavera de Praga, em 1968, e exilada de sua Polônia natal, imprime essa experiência de resistência e denúncia no filme, conectando sua própria trajetória de luta ao drama de Jones.
No centro da trama, o filme expõe a angústia de Jones ao ver sua voz ignorada pelos poderosos, que desconsideram seus alertas, interpretando suas preocupações com Hitler como mero ciúme. Isolado e desacreditado, o jornalista resolve partir para Moscou com a intenção de confrontar Josef Stálin, após já ter entrevistado Hitler. Contudo, sua expectativa de conseguir informações valiosas é frustrada. O drama pessoal e a tensão política do filme se intensificam com a entrada de Walter Duranty, vivido por Peter Sarsgaard, que, como correspondente do “The New York Times”, publicou textos simpáticos ao regime soviético, chegando a ganhar o Prêmio Pulitzer por seu trabalho.
Duranty, cercado de privilégios e falsos triunfos, e sua assistente fictícia, Ada Brooks, interpretada por Vanessa Kirby, acrescentam outra camada à trama. Enquanto Duranty esconde a verdade por trás de suas reportagens e vive em meio a festas luxuosas, Brooks personifica a cumplicidade que fortalece o status quo. A tensão moral entre Jones e Duranty destaca a oposição entre a busca desesperada por justiça e a negação cínica da realidade.
Filme: A Sombra de Stálin
Direção: Agnieszka Holland
Ano: 2019
Gêneros: Thriller/Suspense
Nota: 9/10