Baseado em livro da historiadora Anne Applebaum, que vendeu 10 milhões de exemplares, filme da Netflix vale cada segundo do seu tempo Divulgação / Koch Films

Baseado em livro da historiadora Anne Applebaum, que vendeu 10 milhões de exemplares, filme da Netflix vale cada segundo do seu tempo

Agnieszka Holland construiu uma carreira marcada por filmes que provocam reações profundas no público ao se apropriar de eventos históricos para contar histórias densas, como “Europa, Europa” (1990) e “In Darkness” (2011). Ambos exploram o impacto da Segunda Guerra Mundial sobre os povos sob o controle nazista. Com “A Sombra de Stálin” (2019), Holland reafirma seu compromisso de explorar questões históricas complexas, ao focar na trajetória de Gareth Jones, um jovem jornalista galês determinado a alertar o mundo sobre a ameaça representada por Adolf Hitler, a partir de sua ascensão ao poder como chanceler da Alemanha, em 1933.

Jones, interpretado com intensidade por James Norton, viaja à União Soviética naquele ano com o objetivo de documentar a realidade ucraniana. Em solo soviético, ele se depara com o Holodomor, uma das maiores tragédias do século, uma fome provocada intencionalmente pelas autoridades soviéticas, que vitimou milhões. As denúncias de Jones, publicadas no “The Times”, chamaram a atenção internacional, mas foram amplamente ignoradas pelas elites políticas da época. Holland, que pessoalmente enfrentou o autoritarismo ao ser presa durante a Primavera de Praga, em 1968, e exilada de sua Polônia natal, imprime essa experiência de resistência e denúncia no filme, conectando sua própria trajetória de luta ao drama de Jones.

No centro da trama, o filme expõe a angústia de Jones ao ver sua voz ignorada pelos poderosos, que desconsideram seus alertas, interpretando suas preocupações com Hitler como mero ciúme. Isolado e desacreditado, o jornalista resolve partir para Moscou com a intenção de confrontar Josef Stálin, após já ter entrevistado Hitler. Contudo, sua expectativa de conseguir informações valiosas é frustrada. O drama pessoal e a tensão política do filme se intensificam com a entrada de Walter Duranty, vivido por Peter Sarsgaard, que, como correspondente do “The New York Times”, publicou textos simpáticos ao regime soviético, chegando a ganhar o Prêmio Pulitzer por seu trabalho.

Duranty, cercado de privilégios e falsos triunfos, e sua assistente fictícia, Ada Brooks, interpretada por Vanessa Kirby, acrescentam outra camada à trama. Enquanto Duranty esconde a verdade por trás de suas reportagens e vive em meio a festas luxuosas, Brooks personifica a cumplicidade que fortalece o status quo. A tensão moral entre Jones e Duranty destaca a oposição entre a busca desesperada por justiça e a negação cínica da realidade.


Filme: A Sombra de Stálin
Direção: Agnieszka Holland
Ano: 2019
Gêneros: Thriller/Suspense 
Nota: 9/10