Vencedor de 3 Oscars, épico aplaudido por 8 minutos no Festival de Toronto e que foi indicado a mais 207 prêmios está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

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“1917”, filme de Sam Mendes lançado em 2019, retrata a jornada angustiante de dois cabos britânicos, Blake e Schofield, incumbidos de uma tarefa monumental: entregar uma mensagem que pode salvar o irmão de Blake e um regimento inteiro da morte certa. Os alemães, numa manobra estratégica, fingiram recuar, planejando emboscar as tropas britânicas desprevenidas. Sem comunicação via rádio, a missão dos dois soldados se transforma em uma corrida contra o tempo, atravessando um terreno devastado pela guerra.

Ao longo da travessia, os cabos enfrentam desafios mortais: campos minados, emboscadas e a paisagem desoladora de um território devastado. O filme transmite a brutalidade da guerra com uma crueza palpável, onde a missão de salvar centenas de vidas se torna cada vez mais impossível. A tensão constante acompanha os personagens a cada passo, enquanto a segurança parece sempre estar a um passo além de seu alcance.

O filme, visualmente deslumbrante, destaca-se por sua técnica de filmagem única: uma sequência contínua que segue os protagonistas ininterruptamente em seu percurso. Esse estilo, criado pela cinematografia extraordinária de Roger Deakins, não apenas intensifica a sensação de urgência, mas coloca o espectador no centro da ação, como se estivesse ao lado dos personagens. A ambientação é marcada por cenas sombrias e desoladoras, com trincheiras lamacentas e cadáveres que testemunham os horrores do conflito.

A produção do designer Dennis Gassner é uma obra monumental em si, com a construção detalhada de cenários devastados, incluindo uma cidade destruída e quilométricas trincheiras, oferecendo um realismo impressionante. As coreografias dos soldados em meio ao caos são orquestradas com precisão, e a fluidez da câmera travelling cria uma experiência imersiva e visceral. A combinação desses elementos reforça a sensação de caos e desorientação que a guerra proporciona, evidenciando a fragilidade da vida humana diante de tamanha destruição.

Contudo, a perfeição técnica de “1917” também se revela como uma de suas principais limitações. A narrativa, apesar de visualmente arrebatadora, acaba pecando em termos de profundidade emocional. Os personagens, embora envoltos em uma missão de vida ou morte, falham em cativar emocionalmente o público de forma mais intensa. Ao contrário de “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg, que serviu como inspiração, “1917” carece daquele toque de humanidade que faz o espectador se conectar profundamente com os dramas individuais dos soldados.

Apesar disso, a obra de Mendes se destaca como um tributo ao heroísmo anônimo daqueles que serviram na Primeira Guerra Mundial. O filme se inspira nas memórias do avô do diretor, que atuou como mensageiro durante o conflito, acrescentando uma camada pessoal e histórica à narrativa. Essa conexão emocional com a história familiar é sutil, mas presente, oferecendo um contexto mais profundo para a missão dos protagonistas.

No fim, “1917” é uma experiência cinematográfica tecnicamente impecável, com um visual estonteante e uma abordagem inovadora. Porém, o filme deixa a desejar quando se trata de envolver o espectador emocionalmente. A obra de Sam Mendes, apesar de impressionante em sua execução, falta aquele algo a mais que transforma uma história de guerra em uma jornada inesquecível.


Filme: 1917
Direção: Sam Mendes
Ano: 2019
Gênero: Guerra
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.