Repleto de jogos mentais, filme engraçado e inteligente na Netflix vai desafiar seu psicológico e estimular seus neurônios

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Transformar a monotonia da vida cotidiana em uma fonte de lucro, oferecendo às pessoas uma oportunidade de se reconectar com o sentido de viver, especialmente àquelas que, diante das dificuldades, perderam o entusiasmo, pode ser visto como um grande êxito. Enxergar nessa atividade uma função social e, ao mesmo tempo, cultivar uma paixão pessoal é algo que alivia a sensação de miséria de qualquer um, ainda que essa busca caminhe na corda bamba da vaidade. Com cada dia que passa, a linha entre o orgulho e o fracasso fica mais fina, ameaçando se partir a qualquer movimento que se aproxime da ousadia.

E são justamente esses elementos de vaidade e gosto pelo perigo que temperam uma vida, de outro modo, sem graça. A luta constante entre o tédio esmagador da rotina e a necessidade quase desesperada de encontrar algum prazer nesse ciclo maçante se torna ainda mais evidente quando nem o dinheiro é suficiente para impedir o enfado. Usar os recursos financeiros para tentar escapar do banal cotidiano parece ser a única alternativa para quem associa viver a uma fonte incessante de satisfação, acreditando que a existência deveria ser um antídoto constante contra os infortúnios e até mesmo contra os desastres que, vez ou outra, inevitavelmente aparecem.

Ray Moody, o protagonista do filme “Take Me” (2017), envaidece-se de ter trilhado esse caminho, mas sua jornada está longe de ser fácil. Interpretado por Pat Healy, que também dirige a produção, Moody é um homem melancólico, fora de lugar no mundo. Sua aparência grotesca, marcada por uma peruca que chama mais atenção do que qualquer outro aspecto seu, é uma metáfora perfeita para a falsidade que ele foi construindo ao longo do tempo. Moody administra a Kidnap Solutions, uma empresa especializada em um serviço bastante excêntrico: sequestrar pessoas a pedido delas mesmas.

Ele se especializou em investigar profundamente seus clientes, encontrando seus medos, segredos e fraquezas ocultas, para depois aterrorizá-los com essas descobertas. Para Moody, o trabalho não é apenas uma questão de dinheiro; ele sente que, de algum modo, está ajudando essas pessoas a confrontarem o que mais as apavora. Fotos de seus clientes, tiradas durante o sequestro, cobrem as paredes de seu escritório, atestando sua habilidade em lidar com essa tarefa, que, à primeira vista, parece um tanto perturbadora.

A história toma um rumo inesperado quando Anna St. Blair, uma rica e bem-sucedida executiva interpretada por Taylor Schilling, entra em cena. Ela contrata os serviços de Moody, mas sua motivação vai além do simples desejo de superar medos ou traumas. O filme, com roteiro de Mike Makowsky, começa a explorar então um território mais complexo, colocando em evidência as camadas obscuras da personalidade de Moody. Ele insiste que seu trabalho tem um propósito maior: ele acredita estar ajudando as pessoas a se reconectarem com partes de si mesmas que acreditavam estar perdidas. No entanto, a relação com Anna sugere que as intenções de ambos podem não ser tão claras.

Enquanto Moody não é um sádico ou pervertido, como ela inicialmente imagina, ele não hesita em aceitar a proposta, especialmente com a promessa de cinco mil dólares por um trabalho que parece fácil. À medida que a trama avança, fica cada vez mais incerto até onde Anna está disposta a ir, e o espectador é levado a se perguntar se ela realmente é quem diz ser. Healy conduz essa narrativa de maneira brilhante, mantendo tanto o protagonista quanto o público no mesmo nível de incerteza, enquanto a tensão cresce. A qualquer momento, o jogo perigoso que ambos iniciaram pode se descontrolar. “Take Me” se desenvolve como um suspense inteligente, equilibrando humor e tensão, e acima de tudo, oferecendo uma história que, embora inusitada, permanece plausível, capturando a atenção de maneira eficaz e convincente.


Filme: Take Me  
Direção: Pat Healy
Ano: 2017
Gêneros: Comédia/Crime
Nota: 8/10