Faroeste contemporâneo com Tom Hanks, ignorado pelo público, é um dos melhores filmes da história da Netflix Divulgação / Netflix

Faroeste contemporâneo com Tom Hanks, ignorado pelo público, é um dos melhores filmes da história da Netflix

Compreender que a vida é um constante fluir de eventos inevitáveis é o primeiro passo para uma visão mais serena da existência. O homem não pode controlar as forças que o cercam, e tentar moldar a realidade à sua vontade é como lutar contra uma maré incansável de mudanças. Há cerca de 150 anos, o mundo era ainda mais vasto e incerto, com os indivíduos frequentemente à mercê de circunstâncias fora de seu controle. Embora a invenção da prensa móvel por Johannes Gutenberg, em 1439, tenha sido um marco importante na disseminação de informação, ela não trouxe de imediato as reformas sociais e educacionais de que a população necessitava. O conhecimento da leitura, naquela época, era um privilégio restrito a poucos. A vasta maioria permanecia alheia aos textos, enquanto as cidades maiores eram dominadas por patrões que ignoravam os direitos dos trabalhadores, sem falar dos rincões, onde leis antigas e brutais, como o Código de Hamurabi, ainda ditavam as regras.

Em meio a essa paisagem histórica, o personagem Jefferson Kyle Kidd, interpretado por Tom Hanks em “Relatos do Mundo” (2020), surge como um exemplo de alguém que encontra uma nova ocupação em narrar notícias aos habitantes das regiões mais distantes da América pós-Guerra Civil. Esse trabalho, sofisticadamente retratado pelo diretor Paul Greengrass, reforça a ideia do heroísmo como essencial para manter a ordem em uma sociedade que ainda lutava para compreender sua própria diversidade. Embora o filme toque superficialmente em eventos históricos, como a Décima Terceira Emenda, que aboliu a escravidão, sua força reside em explorar os aspectos sociais e culturais da época, onde conflitos internos moldavam o futuro do país. A história se desenrola em 1870, e o protagonista, inspirado numa figura real, percorre o interior dos Estados Unidos para compartilhar as notícias com quem pode pagar e tem interesse em ouvir.

Durante uma de suas viagens, Kidd encontra o corpo de um homem negro enforcado, seguido pelo avistamento de uma garota assustada fugindo pelo bosque. A menina, que depois é identificada como Johanna, foi criada por uma tribo Kiowa e acaba formando um vínculo com Kidd ao longo de sua jornada. A performance de Helena Zengel como Johanna é marcante, e a interação entre ela e o personagem de Hanks dá ao filme uma profundidade emocional significativa. Conforme a narrativa avança, Greengrass aproveita para abordar as tensões raciais da época e a coexistência dos três principais grupos étnicos nos Estados Unidos: indígenas, brancos e negros.

O filme se desenvolve como um emocionante road movie, em que Kidd e Johanna enfrentam perigos no Velho Oeste, incluindo confrontos intensos com personagens marginais. A trilha sonora de James Newton Howard complementa magistralmente essa atmosfera, capturando a essência de um país em busca de sua identidade, onde figuras como Kidd desempenhavam um papel fundamental na construção de uma nação que, apesar de suas falhas, emergiria como uma potência mundial.


Filme: Relatos do Mundo
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2020
Gêneros: Drama/Ação
Nota: 10