A melhor ficção científica da história está na Netflix — e você provavelmente ainda não assistiu Divulgação / Netflix

A melhor ficção científica da história está na Netflix — e você provavelmente ainda não assistiu

Filmes que exploram a interação humana com o ambiente e suas consequências mais extremas, como o apocalipse, tornaram-se frequentes no cinema atual. Diretores de diversas correntes ideológicas, com visões por vezes desconexas da realidade que retratam, mostram-se periodicamente inclinados a uma descrença generalizada na existência humana, o que resulta em produções de caráter escatológico, de formas variadas. Exemplos notáveis são Kubrick com “2001 — Uma Odisseia no Espaço” (1968), Ridley Scott em “Blade Runner — O Caçador de Androides” (1982), e os Wachowski com “Matrix” (1999). Cada um desses títulos se destacou pela originalidade e profundidade, rendendo continuações que, mesmo com avanços técnicos e visuais, nunca alcançaram o impacto dos originais.

Alex Garland, no entanto, é um cineasta que consegue superar os lugares-comuns desse tipo de narrativa, embora seja precoce afirmar que essa tendência esteja esgotada. Seu confuso e intrigante “Aniquilação” (2018) se sobressai, mesmo sendo uma adaptação do livro de Jeff Vandermeer. Este filme contém elementos que o alinham com produções icônicas como “Stalker” (1979) de Tarkovski e “Dr. Fantástico” (1964) de Kubrick, que transcenderam seu tempo e se firmaram como manifestações artísticas humanas notáveis. Curiosamente, “Aniquilação” fracassou em audiência, prejudicado por uma divulgação limitada, reflexo do impacto negativo de “Mãe!” (2017) de Darren Aronofsky, lançado pouco antes. Contudo, filmes como esses continuam a desafiar e surpreender.

O roteiro de Garland, fiel ao livro de Vandermeer, retoma o conceito de uma entidade estranha de outra dimensão que altera o status quo, representada aqui por um meteoro que colide com um farol em uma região isolada. Lena, interpretada por Natalie Portman, é interrogada em uma sala de vidro pelo personagem de Benedict Wong, que a questiona sobre sua missão em uma área misteriosa da qual apenas ela retornou. Conforme a trama avança, a complexidade da personagem de Portman emerge: uma bióloga e ex-militar, abalada pela perda de seu marido, Kane (Oscar Isaac), que desapareceu em uma missão secreta. Flashbacks revelam um passado feliz e tranquilo, em contraste com a estranha e perturbadora reviravolta de Kane, que passa a agir de maneira instável e violenta.

Lena se junta a outras quatro especialistas em uma expedição ao Brilho, uma zona cercada de mistérios e perigos. A equipe, formada por personalidades distintas, encontra desafios mortais e descobertas que desafiam sua compreensão do mundo. Entre elas, Anya (Gina Rodriguez), que desenvolve uma curiosidade intensa sobre a vida de Lena, morre tragicamente em um ataque brutal de uma criatura híbrida. Essa morte serve como um catalisador para as reflexões sobre o verdadeiro caráter de Lena e Kane, e se ambos já eram, de alguma forma, corrompidos antes mesmo de entrarem no Brilho. Garland, ao longo do filme, questiona o que transforma as pessoas, e se é o ambiente que as molda ou se já carregavam dentro de si traços de perversidade.

Ainda que pareça que muito foi revelado, o essencial da história permanece inexplorado. Ao lado de seu trabalho anterior, “Ex-Machina: Instinto Artificial” (2014), Garland constrói uma narrativa rica sobre a relação do homem com seu ambiente, suas criações tecnológicas e as consequências de sua própria autodestruição. “Aniquilação” surge como uma produção visualmente impactante, marcada por imagens inesquecíveis que, no final, contribuem para firmá-lo como uma das mais significativas alegorias sobre o fim da humanidade no cinema recente.


Filme: Aniquilação
Direção: 
Alex Garland
Ano
: 2018
Gêneros
: Ficção científica/Terror
Nota
: 10/10