A história de amor da Netflix, tão doce e deliciosa quanto um pudim de caramelo Divulgação / Atresmedia Cine

A história de amor da Netflix, tão doce e deliciosa quanto um pudim de caramelo

A existência humana se desenrola, muitas vezes, na mesmice de seus próprios passos. Nessa jornada repetitiva, enfrentamos conflitos internos profundos, tão ocultos quanto presentes, como se o coração fosse um cais de onde partem e chegam sensações imprevisíveis. “Gente que Vai e Volta” flutua nessa incerteza, destacando um dos perigos que rondam a vida adulta: a ilusão de controle sobre sentimentos e decisões.

Patricia Font, com sua precisão narrativa, oferece um olhar para os solitários e os que idealizam o amor eterno. As metáforas que usa, por mais usuais que possam parecer, servem para tocar diretamente na ferida das escolhas difíceis que a vida impõe. A adaptação do romance “Gente que Viene y Bah” de Laura Norton, feita por Darío Madrona e Carlos Montero, ganha força por esse toque íntimo, reforçado pelas contribuições discretas da própria autora, que prefere se esconder atrás de um pseudônimo.

Bea, uma mulher segura de si e marcada pela ausência paterna, busca um futuro sólido e promissor como arquiteta. Protegida pelo amor de sua família, ela encontra no sucesso profissional e em Victor, seu noivo, um equilíbrio que, embora desejado, não será duradouro. A diretora coloca Clara Lago no centro de um drama de emoções conflitantes, enquanto a personagem descobre que a traição pode vir de onde menos se espera: o homem com quem pretendia passar a vida.

A revelação de que Victor, vivido por Fernando Guallar, teve um caso com uma repórter de televisão, conhecida de Bea, é o catalisador de uma virada na vida da protagonista. Devastada e sem rumo, ela não só lida com o rompimento de seu relacionamento, mas também com a perda de seu emprego, atingindo o ponto mais baixo de sua carreira e vida pessoal, criando a premissa para uma grande transformação.

De volta à sua cidade natal, onde a irmã Irene, interpretada por Alexandra Jiménez, agora comanda as coisas, Bea encontra novos desafios e interesses. Entre eles, Diego, um empresário com ambições que refletem as de Bea, e cuja proposta de negócios ecoa os sonhos que ela deixou para trás. Álex García, no papel de Diego, oferece uma performance cativante, com toques de humor e charme que contrastam com a seriedade de Victor, fazendo Bea questionar seus sentimentos e desejos.

O enredo ganha ritmo na segunda metade do filme, com a relação entre Bea e Diego se desenvolvendo de maneira inesperada. Font equilibra esse romance com a presença de Carmen Maura, que, com sua vasta experiência, enriquece as cenas com uma leveza singular. Embora a trama não traga grandes surpresas, “Gente que Vai e Volta” conquista pela simplicidade com que lida com questões universais, como perda, reencontro e renovação. Mesmo sem grandes reviravoltas, é difícil não se deixar envolver pela jornada emocional da protagonista.


Filme: Gente que Vai e Volta
Direção: Patricia Font
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Comédia/Romance
Nota: 8/10