Obra-prima de Guillermo del Toro e considerado um dos maiores filmes de super-heróis de todos os tempos, chega à Netflix Divulgação / Colombia Pictures

Obra-prima de Guillermo del Toro e considerado um dos maiores filmes de super-heróis de todos os tempos, chega à Netflix

Guillermo del Toro fez de “Hellboy” um marco do terror fantástico que virou sua grife em Hollywood. O primeiro longa da franquia é decerto o que mais se parece com os quadrinhos criados por Mike Mignola, preservando sua bizarrice, sua insânia, sua natureza caótica, graças a efeitos especiais e maquiagem de primeira, e não por acaso o que mais se aproxima da ideia original do ilustrador e roteirista californiano. Combinando elementos de ação, terror e comédia, o texto de Del Toro e Peter Briggs volta-se para zonas sombrias, densas, mórbidas do espírito do homem, valendo-se de uma criatura metade gente, metade diabo, que, aos poucos, vence a repugnância do espectador e se firma como um personagem carismático e tranquilamente capaz de inspirar compaixão e ternura. É dessa forma que o personagem-título convence o espectador que merece mais alguns filmes para chamar de seus.

“Hellboy” começa com uma cena adorável, guardadas as proporções. Em outubro de 1944, um pequeno demônio tenta manter-se em segurança durante o tiroteio entre nazistas, protegidos pelos Sete Deuses do Caos, e aliados. Os soldados americanos batem até mesmo essa ajuda do outro mundo às tropas de Hitler, e quando tudo finalmente termina, resta um bebê vermelho com chifres e rabo. Sessenta anos mais tarde, Hellboy, aquele estranho híbrido, tem o organismo de um garoto de vinte, e integra um certo Departamento de Pesquisa e Defesa Paranormal, divisão do FBI criada justamente para que se combatam monstros como ele. 

Minutos depois, o diretor, claro, entra nos aspectos menos óbvios de seu protagonista, mostrando Trevor Bruttenholm, o cérebro por trás da organização e “pai” de Hellboy, que como todo adolescente tem dado trabalho. Concluindo uma de suas extenuantes jornadas, atrás de Sammael, uma espécie de lagarto gigante renascido do inferno, ele passa no manicômio onde está internada Liz Sherman, uma paranormal que produz chamas quando confrontada. Se antes Hellboy reservava seu afeto todo para Bruttenholm, a figura realmente paternal eternizada por John Hurt (1940-2017), agora o coração duro de um anti-herói polêmico bate pela mocinha de Selma Blair.

Além da mão firme de Del Toro, Ron Perlman é quem sustenta o filme. Imagino que aguentar horas de maquiagem todos os dias seja o menor dos incômodos num enredo que explora tópicos como identidade e urgência por pertencer equilibrando-se na finíssima linha entre a caricatura grosseira e a arte. A estética duvidosa, plena de criaturas fantásticas e cenários em penumbra e tingidos de cores fortes, reafirma o estilo único do diretor e contribuíram para fazer de “Hellboy” um patrimônio do terror. Com alguma poesia.


Filme: Hellboy
Direção: Guillermo del Toro
Ano: 2004
Gêneros: Terror/Fantasia
Nota: 8/10