O encanto nostálgico sempre foi uma marca registrada do trabalho de Woody Allen, e em “Um Dia Chuvoso em Nova York”, essa característica ressurge com intensidade. Mesmo ambientado nos tempos contemporâneos, o filme se propõe a reviver atmosferas de décadas passadas, como os anos 60 ou 70, com cenas que evocam clássicos cenários nova-iorquinos: pessoas elegantemente apreciando martinis em bares ao som suave de piano, passeios de charretes românticos e até o detalhe dos cigarros de ponta, que completam a estética retrô. Filmado em 2017, essa comédia romântica teve seu lançamento adiado, devido ao impacto dos escândalos e polêmicas que agitaram Hollywood na época.
A trama segue Gatsby (Timothée Chalamet), um jovem aristocrata que, após deixar Princeton por Yardley, conhece Ashleigh (Elle Fanning), uma jovem de origem burguesa do Arizona. Ingênua e fascinada pelas complexidades da vida na cidade grande, Ashleigh sonha alto, almejando uma carreira de sucesso no jornalismo, com sua mente já projetada para o prestigiado Prêmio Pulitzer. Gatsby, por sua vez, é um jovem que enxerga Manhattan através de uma lente romântica, embalado pela nostalgia e pela emoção que a cidade traz.
A história se desenrola quando Ashleigh recebe a tarefa de entrevistar Roland Pollard (Liev Schreiber), um cineasta de renome, cuja genialidade parece estar constantemente à beira do caos emocional. Gatsby, vislumbrando a oportunidade de passar um dia mágico ao lado da namorada em Manhattan, traça um plano meticuloso para aproveitar ao máximo a cidade. Porém, os acontecimentos não seguem o roteiro que ele imaginava, e logo seus planos começam a desmoronar.
Ashleigh, durante sua entrevista com Pollard, mergulha de cabeça no mundo fascinante, porém caótico, do cinema, onde se vê envolvida em situações inesperadas com figuras como Ted (Jude Law), um roteirista em crise, e Francisco Vega (Diego Luna), um astro de cinema carismático e sedutor. Enquanto isso, Gatsby, abandonado à própria sorte, acaba se reencontrando com velhos conhecidos, participando como figurante em um filme e, por fim, reatando laços com Chan (Selena Gomez), irmã de sua ex-namorada, reacendendo uma chama do passado.
À medida que o dia se desenrola, o filme revela, com maestria, as nuances do amor, das escolhas e das ironias da vida. “Um Dia Chuvoso em Nova York” é uma obra que vai além de sua superfície romântica e leve. Através de diálogos afiados e uma estética requintada, Allen explora as contradições do mundo moderno, enquanto nos transporta para uma era que, apesar de distante, continua a ressoar em nossas vidas cotidianas.
Lançado em meio ao furacão das controvérsias que abalaram Hollywood, em especial as acusações contra Harvey Weinstein e as repercussões envolvendo Allen, o filme foi afetado por esse clima de incerteza. Contudo, mesmo diante desse cenário conturbado, a narrativa consegue manter sua essência, tocando em questões profundas sobre o papel do artista, a volatilidade das relações e a busca incessante por significado em um mundo em constante transformação.
Apesar dos desafios enfrentados, “Um Dia Chuvoso em Nova York” reafirma a habilidade de Allen em criar histórias atemporais, que, de forma sutil, conectam o espectador com sentimentos universais de nostalgia, perda e desejo. Ao entrelaçar o velho e o novo, o filme oferece uma reflexão sobre o presente, enquanto nos convida a revisitar o passado com olhos renovados. Através de personagens cativantes e um enredo habilmente construído, a obra é um lembrete de que, por mais que o tempo avance, certas emoções permanecem inabaláveis, fazendo-nos recordar que a vida, assim como o cinema, é uma constante reinvenção.
Filme: Um Dia de Chuva em Nova York
Direção: Woody Allen
Ano: 2019
Gênero: Comédia/Romance
Nota: 9/10