“Ninguém Quer” é uma coleção de clichês a respeito das dificuldades de um relacionamento amoroso. Feita essa útil ponderação, falta substância dramática à série criada por Erin Foster, distribuída por uma dezena de episódios de cerca de meia hora cada. A história de um improvável casal formado por um rabino ambicioso e uma agnóstica amargurada depois de tantas desilusões com o universo masculino emperra em vários pontos, a começar pela maneira superficial como um e outro tópico é exposto. Os diretores parecem sempre continuamente seguros, o que resulta em subtramas presunçosas, como se se quisesse emplacar alguma receita de livro de autoajuda — esse, sim, um expediente muito arriscado em seus métodos recendendo intolerância para todos os lados.
Joanne coapresenta um podcast sobre sexo e relacionamentos com Morgan, a irmã divorciada vivida por Justine Lupe, e as duas se comportam como adolescentes histéricas ensaiando coreografias estúpidas numa rede social qualquer. No jantar na casa de um amigo, ela conhece Noah Cohen, um rabino recém-separado da namorada, Esther, e a partir daí “Ninguém Quer” balança do núcleo principal para as adjacências, com boas passagens de Timothy Simons na pele de Sasha, o irmão mais velho de Noah, e Tovah Feldshuh como Bina, a típica mãe judia, despejando sobre o caçula toneladas de culpa teologicamente muito bem-elaborada. É inegável que o humor em um ou outro trecho concorra para que o todo não seja uma completa perda de tempo, a exemplo da hora em que, à mesa, quando o rabino é instado a falar sobre a baumaniana liquidez das relações, os presentes voltam-se, claro, para Noah — exceto Joanne, que quando ele abre a boca, o repreende, esperando a opinião de um homem mais velho, calvo, de paletó e camisa escuros na ponta inversa.
Adam Brody e Kristen Bell fazem o que podem munidos de texto tão raso, mas a responsabilidade pela xaropada em “Ninguém Quer” é também deles — ou melhor, de quem os escalou, tanto que sozinhos, costumam funcionar. Comédias românticas talvez sejam o gênero que mais depende da afinidade do casal de mocinhos, vide Audrey Hepburn (1929-1993) e Gregory Peck (1916-2003) em “A Princesa e o Plebeu” (1953), levado à tela por William Wyler (1902-1981); Hugh Grant e Julia Roberts em “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), dirigido por Roger Michell (1956-2021); ou, esticando-se a corda, Anne Hathaway e Nicholas Galitzine no recente “Uma Ideia de Você” (2014), de Michael Showalter. Brody e Bell tentam, mas ninguém em sã consciência os quer.
Série: Ninguém Quer
Criação: Erin Foster
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10