Comédia romântica com Julia Roberts é programa perfeito para dar leveza à sua tarde, no Prime Video Divulgação / Universal Pictures

Comédia romântica com Julia Roberts é programa perfeito para dar leveza à sua tarde, no Prime Video

O tom farsesco permeia cada diálogo de “Ingresso para o Paraíso”, refletindo a superficialidade de seus personagens: pessoas privilegiadas que, apesar de carreiras bem-sucedidas, diplomas em universidades prestigiadas e viagens para destinos exóticos, compensam suas frustrações pessoais com artifícios e diálogos que beiram o absurdo. O filme dirigido por Ol Parker carrega a marca de um entretenimento ligeiro, daqueles que poderiam facilmente ser assinados por outros diretores como Todd Haynes, Woody Allen ou Noah Baumbach, sem grande impacto sobre sua essência.

Julia Roberts e George Clooney protagonizam a trama, interpretando com maestria um casal divorciado, Georgia e David, cujos sentimentos contraditórios a respeito do amor são explorados de maneira a conferir profundidade emocional à narrativa. O filme ganha fôlego ao abordar a inevitabilidade do reencontro entre os dois, obrigados a superar mágoas antigas quando descobrem que a filha, Lily, está prestes a repetir os mesmos erros que eles cometeram no passado, deixando para trás sua vida confortável para seguir uma paixão impetuosa. O cenário, a exótica Bali, é mais do que um mero pano de fundo; é um símbolo do desconhecido e do selvagem, que atrai aqueles dispostos a romper com a previsibilidade da vida moderna.

A narrativa, cuidadosamente construída por Parker e seu corroteirista Daniel Pipski, utiliza o cenário paradisíaco de Bali — conhecido como a “terra dos deuses” — para criar um contraste entre a liberdade e o desejo de aventura da juventude e as limitações impostas pela vida adulta. Enquanto a trama avança, fica claro que o propósito principal é mergulhar na dinâmica familiar e nas consequências das escolhas de vida, ao mesmo tempo em que se oferece ao espectador um vislumbre da beleza estonteante do sudeste asiático.

No início do filme, vemos David em seu ambiente de trabalho, supervisionando uma obra, enquanto Georgia se encontra em um leilão de arte. Essa abertura revela imediatamente a tensão persistente entre os dois, com ambos rememorando as dificuldades do casamento sem motivo aparente, exceto para estabelecer o conflito necessário ao desenvolvimento da narrativa. Logo depois, os dois se unem para a formatura de Lily, que foi o único fruto de seus cinco anos de união antes de o relacionamento desmoronar. Esse reencontro, repleto de trocas de farpas e ressentimentos mal resolvidos, prepara o terreno para o que está por vir.

Roberts e Clooney encontram espaço para personalizar seus personagens, inserindo nuances que vão além do roteiro oferecido por Parker e Pipski. Eles conseguem, em meio às falhas e imperfeições de seus personagens, criar empatia no público, que acompanha com interesse a evolução do relacionamento conturbado dos dois. Uma das cenas mais marcantes é a da formatura de Lily, onde Georgia e David são forçados a sentar lado a lado, revivendo as memórias de seu casamento fracassado enquanto fingem manter a compostura diante da filha e dos amigos.

A viagem de Lily a Bali é, sem dúvida, o ponto de virada da trama. Ao invés de seguir um roteiro previsível de férias ensolaradas, a personagem acaba encontrando muito mais do que esperava: um amor inesperado e uma nova perspectiva de vida. A relação com Gede, um cultivador de algas interpretado por Maxime Bouttier, oferece à história uma leveza romântica que contrasta com o cinismo do casal protagonista. Se a narrativa se limitasse a explorar essa relação entre Lily e Gede, “Ingresso para o Paraíso” poderia ser lembrado como uma fábula moderna sobre as aventuras e as reviravoltas que a vida oferece.

Entretanto, o filme opta por um desfecho que, apesar de satisfatório em termos de comédia romântica, acaba desperdiçando o talento de seus protagonistas e recai nos clichês do gênero. A insistência em amarrar todas as pontas com uma solução previsível faz com que muito do charme e da dedicação de Roberts e Clooney seja diluído em um final decepcionante. Mesmo assim, o longa consegue, em seus melhores momentos, capturar a essência das segundas chances, do reencontro com antigos amores e da busca por uma vida que, de alguma forma, possa transcender a mediocridade.

Embora a resolução final possa deixar um gosto agridoce, é inegável que “Ingresso para o Paraíso” cumpre seu papel como entretenimento leve e escapista, proporcionando ao público momentos de descontração e algumas reflexões sobre a imprevisibilidade da vida e do amor. É um filme que, ainda que se perca em alguns tropeços narrativos, tem seu charme garantido pelas performances carismáticas de seus atores principais, e pela ambientação deslumbrante, que faz sonhar com as belezas ocultas da ilha dos deuses.


Filme: Ingresso para o Paraíso
Direção: Ol Parker 
Ano: 2022
Gêneros: Comédia/Romance 
Nota: 7/10